De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

23/04/2009

"Acúmulo ilícito"

Candidatar-se a qualquer cargo eletivo, em nossa exemplar votocracia, não é, evidentemente, exercer cargo ou função pública. Mas usar o cargo ou função pública exercida para cotizar-se, lançar-se, divulgar-se, prejudicar adversários ou imiscuir-se com possíveis aliados, sejam eles cristalinos, precariamente translúcidos ou totalmente obscuros aponta uma ilicitude moral, uma declaração de incapacidade de representar o povo dotando-se das virtudes necessárias para tal.
É isso o que o Exmo. Sr. Dr. Gilmar Mendes tem feito.
Não sei a que ponto podemos acusá-lo de "destruir a credibilidade da justiça" no que tange às suas decisões enquanto constitucionalista, mas sua postura, a rigor, vem sendo esta: habeas corpus para a figura mais nefasta da república, críticas irascíveis e inoportunas aos outros poderes, discussão pública de assuntos do Supremo de maneira tendenciosa e casuística... Além de tudo, vamos parar, lembrar e refletir em quais momentos e em quais assuntos o atual presidente do STF divergiu da maioria de seus colegas. Devíamos parar para refletir porque muitos procuradores da república, juízes federais e delegados da PF têm protestado contra ele. Ou, então, recordar os cargos que ele exerceu nos govenos FHC (AGU) ou no governo Collor (cargos na Secretaria da Presidência).
Será ele o paladino solitário na defesa da Constituição, senhor absoluto da verdade e da razão?
O Ministro Joaquim Barbosa, tenho certeza, protestou, de sua forma, com suas palavras e com seus argumentos; e também estou certo que muitos outros brasileiros "comuns" (se forem 50 já são muitos) gostariam de protestar contra as atitudes do presidente do Supremo.
Agir da maneira como o Exmo. Sr. Dr. Gilmar Mendes tem agido nos últimos dois anos faz-me chegar a uma conclusão evidente: ele tem pretensões políticas. Diamantino deve estar agitada, esperando as faixas do Dr. Gilmar para governador ou senador. E ele, como todos os demais eleitores de Diamantino ou do Mato Grosso, tem o direito de concorrer a tais cargos. Só não me parece muito correto usar o prestígio e a projeção que tem um presidente do STF para adquirir evidentes vantagens eleitorais.
É como se fosse um acúmulo ilícito.

21/04/2009

Dogmas e verdades absolutas, ignorância e mentiras.

Mahmoud Ahmadinejad foi também tachado de racista, em virtude da postura assumida pelos delegados estadunidense, israelense e europeus na fracassada cúpula da ONU sobre racismo. Podem ter alguma razão, mas a verdade é que Israel, enquanto estado organizado, também deveria receber o mesmo rótulo.
É tão absurdo ouvir Mahmoud Ahmadinejad negar o holocausto judeu na 2a. Guerra quanto negar a crueldade de Israel na Palestina, ou quanto ignorar a ocupação ilegal de judeus israelenses em Gaza e Cisjordânia.
Em tempo de paixões (e qualquer tempo é), faz-se necessário o combate à verdade única. Demonizar o Irã não é novo, não é inédito. Basta lembrar o que a imprensa ocidental dizia da Khomeini e iranianos no conflito contra o Iraque - esta, sim, a "Guerra do Golfo"; esta, sim, que engendrou o ditador Saddam Hussein.
Naquele aparentemente eterno combate político e armado entre palestinos e árabes em geral contra Israel, os dois lados têm suas razões e os dois lados merecem severas críticas. O problema é que, a rigor, a maior parte da população ocidental está submetida a uma farsa (entre tantas) covarde no que concerne a história contemporânea do Oriente Médio. Se palestinos são radicais, isralenses também são e, pela condição material de Israel, conseguem também ser cruéis: combatem crianças e adolescentes que lhes atiram pedras com armamento pesado de guerra. Relatos são inúmeros, vindos de palestinos, de alguns israelenses e de "neutros" de outros recantos do mundo.
Mahmoud Ahmadinejad pode ser ou parecer, muitas vezes, patético, irracional e radical, mas ele não consegue nem sequer se aproximar da paixão pelas meias-verdades ou completas mentiras da imprensa ocidental no que tange o Oriente Médio. Segue um exemplo de verdade obscurecida pela imprensa ocidental:

Resolução no. 242 da ONU

22 de novembro de 1967

O Conselho de Segurança,

Expressando sua preocupação permanente com a grave situação no Oriente Médio, enfatizando a inadmissibilidade da aquisição de território pela guerra e a necessidade de trabalhar por uma paz justa e duradoura na qual cada Estado na região possa viver em segurança,

Enfatizando, ademais, que todos os Estados-membros, em sua aceitação da Carta das Nações Unidas, assumiram um compromisso de agir de acordo com o Artigo 2 da carta,

1. Afirma que a efetivação dos princípios da Carta requer o estabelecimento de uma paz justa e duradoura no Oriente Médio que inclua a aplicação dos dois seguintes princípios:

I. Evacuação das forças armadas israelenses dos territórios ocupados no conflito recente;

II. Encerramento de todas as reivindicações ou estados de beligerância e respeito pelo reconhecimento da soberania, integridade territorial e independência política de cada Estado da região e de seu direito a viver em paz dentro das fronteiras seguras e reconhecidas, livres de ameaças ou de atos de força;

2. Afirma ainda a necessidade de

a. Garantia de liberdade de navegação através internacionais da área;

b. Conseguir um acordo justo para o problema dos refugiados;

c. Garantir a inviolabilidade territorial e independência política de cada Estado da região, através de medidas que incluam a criação de zonas desmilitarizadas;

3. Pede que o Secretário-Geral indique um representante especial para ir ao Oriente Médio para estabelecer e manter contatos com os Estados envolvidos a fim de promover um acordo e apoiá-los visando à obtenção de um acordo de paz aceitável, de acordo com as normas e princípios desta resolução;

4. Pede que o Secretário- Geral apresente um relatório ao Conselho de Segurança sobre o progresso dos esforços do Representante Especial, logo que seja possível.

13/04/2009

E um novo:

Não há beleza em mera imagem,
assim como não há
poesia sem sujeito.

Compensa-se com a chance em
cada passo ou movimento,
em cada olhar ou lágrima.

São dessas poucas diferenças
que nos distinguimos, e por isso
é triste aceitar trocar evolução
por barbárie.

Não parece, mas é opção
ainda que inconsciente, mesmo
casual. Sorriso fútil e lágrima inútil,
trocar ouro por brita.

Textos antigos (e revisados) 1:

Não ignoro
A incoerência de minhas linhas,
mas não posso deixá-las de lado, ainda
que sequer encontre beleza
(tanto pessimismo, palavras tolas,
tristes...)

Sorrio ao lembrar o que procuro,
ao que me dedico com toda atenção.
Perdido num sonho,
de não saber onde se vai chegar, mesmo
esperando, às vezes, até comover,
convencer
iludir
com uma nobreza que ainda não compreendi,
receoso desses medos que
me impedem de usar
ainda um pouco mais de
transparência.

Cada nova palavra que sai de mim
sai por si só,
às vezes
amontoadas, tão sem sentido, que
tenho dó de mim;
ocasionalmente, transmitem
algo, de tão pueril que me
permitem desprezá-los.
E, muito raramente, entendo
o que eu mesmo quis dizer.

Mas evito sorrir - isso
talvez seja falsa modéstia -
escondo só para mim, ainda
sem saber se tudo é egoísmo
sarcasmo
ou medo de um grande fracasso.