De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

16/12/2011

NENHUMA DIFERENÇA???

Em virtude do episódio parcialmente divulgado pela imprensa, da publicação do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., vejo mais uma vez pessoas afirmando que não há diferença entre o PSDB e o PT.

Ora!! Isso me irrita e incomoda profundamente!! As diferenças são evidentes, saltam aos olhos. Tal afirmação é típica do cego-que-não-quer-ver! Posso rapidamente listá-las para pontuá-las aos incautos e aos radicais:

1 – A sigla PSDB tem 4 letras -   a sigla PT tem duas;
2 – Apesar de terem, na sigla, a letra “P” de Partido em comum, o complemento de um é da Social-Democracia Brasileira - no de outro é dos Trabalhadores;
3 – Em um, predominam as cores azul, amarela e branca - no outro, a vermelha  e a branca;
4 – O símbolo de um é o animal tucano -  de outro, uma estrela estilizada;
5 – Um atualmente é oposição e já foi governo, na esfera federal – o outro, na mesma esfera, é governo e já foi oposição;
6 – Um recebe mais apoio do empresariado financeiro e da grande imprensa, e um pouco menos de outros setores empresariais – o outro recebe mais apoio do empresariado industrial  e de publicidade, e um pouco menos de outros setores empresariais;
7 – Um aprofundou o know-how da “governabilidade” fisiológica e a praticou -  o outro só praticou, porque o know-how já existia;
8 – O principal líder de um é FHC, Fernando Henrique Cardoso – do outro, é Lula, Luís Inácio da Silva.
9 – O grande aliado de um era o PFL – do outro, o PSB (não vai ninguém me encher com PMDB, né? Alguma semelhança eles tinham que ter!)

´Taí!!! Rapidamente, listei nove diferenças claras e evidentes entre os dois partidos! Como pode algum cidadão ainda ter a audácia de afirmar que "é tudo a mesma coisa"? Que não tem diferença? Que é "cara de um, focinho do outro"? Isso não é justo!!

Agora falando sério, existem realmente muitas semelhanças entre as duas agremiações políticas – semelhanças, repito. A origem, num sentido mais lato, é a mesma. A sigla de um torno-se a vertente ideológica do outro. As atitudes radicais, ora na posição de governo ora na de oposição, se parecem. Mas existem também, evidentemente, diferenças programáticas e ideológicas que infelizmente ficam escondidas debaixo do tapete – junto com a sujeira! Não se valoriza a discussão do projeto de país de cada partido,  justamente porque ambos os grupos, no ilusório sonho de construir tais projetos (diferentes mas sempre servindo a mesma classe social), atuam na política com base no que pode haver de mais negativo e pernicioso na expressão “maquiavélico”, talvez exatamente porque não entendem com a necessária justeza etimológica tal expressão. E assim, cedem espaço ao fisiologismo e tornam-se culpados, no mínimo por conivência, pelo peculato, pela prevaricação, pela concussão e pela advocacia administrativa, nos mais altos padrões (e valores!!), tudo isso em nome da “governabilidade”.

Mas a ironia acima serve principalmente para os defensores ardorosos tanto do PSDB quanto do PT ou qualquer outro partido, que tratam e discutem política -  como disse meu amigo virtual Sidney Ferreira da Costa, sendo original dele ou não a ideia - do mesmo modo que tratam e discutem futebol; que tratam os partidos como se fossem times de futebol (e aí, não tem discussão, não tem argumento, não tem mudança de posição, não tem ouvir o contraditório!!!)

Principalmente para aqueles que ainda alimentam ilusões para com a democracia representativa,  certamente não é essa a maneira correta de construir; muito pelo contrário!! É este comportamento, de defender ardorosamente uma sigla e seus próceres, sem ponderação, reflexão e discussão, que geram a estagnação e provoca atitudes semelhantes, senão idênticas, de todos aqueles que ocupam o poder. As discussões têm que ser mais programáticas, pontuais, devem ser retomadas a cada novo assunto que entre na pauta política do país, e sem assumir imediatamente a posição do seu “partido de futebol”.

Pior que tudo, entretanto, é perceber que a grande imprensa brasileira, que detém naturalmente o privilégio da divulgação de ideias e pensamentos, quer escolher em nome dos brasileiros quem é que vai ocupar o poder para praticar ou permitir, enquanto governo, constantes crimes e ataques contra os reais interesses do povo - que se torna, cada vez mais, refém da própria ignorância.

11/12/2011

PORQUE EU ERA CONTRA A SEPARAÇÃO DO PARÁ

Já posso dizer que ERA contra, pois os paraenses, na proporção final aproximada de 67%, recusaram dividir ou retalhar o estado.

Sei que algumas pessoas apoiavam a divisão sustentando a opinião em argumentos válidos, que iam desde a distância do poder público, a diferença regional em termos econômicos e até mesmo culturais. Não vou me estender aqui no refutar destes argumentos - pois meu principal motivo de defender o Pará uno é outro -, mas o estado (o governo, seja lá em qual esfera for) tem teorica e historicamente uma missão, que abrange inclusive a administração das diferenças, perpassando suas tarefas básicas. É bem verdade que o estado capitalista liberal burguês, "democrático" ou não, na prática jamais vai funcionar assim, mas é por isso mesmo que o argumento é inválido: inútil como um,  incapaz como dois ou ineficaz dividido em três.

Tenho um argumento central, mas também podemos falar do quanto é equivocado aumentarmos o custo público com a divisão das atuais unidades federativas. Deveríamos, sim, é pensar no contrário, em unir pequenos estados tanto em população quanto em território, para efetivamente enxugar a máquina pública e disponibilizar recursos para necessidades reais da população, ainda que nos parâmetros do estado liberal burguês. Mas dizer qualquer coisa neste sentido, ponderando a dinâmica que adquirem determinadas discussões em nosso país, seria quase o mesmo que tentativa de suicídio! Só para não deixar passar em branco, nossa divisão federativa, especialmente no litoral Atlântico, está ainda fundamentada na divisão em capitanias hereditárias de 480 anos atrás, e os traços autônomos e regionais indiscutivelmente presentes devem-se muito mais ao controle da coroa portuguesa no tocante às comunicações e transportes entre as capitanias (depois províncias) com medo do contrabando e da divulgação do conhecimento, do medo de rebeliões e do risco de perda ou diminuição do seu poder. Mas, enfim... Continuaremos sustentando quase 3 dezenas de Assembleias Legislativas (com seus respectivos cargos e penduricalhos), 3 dezenas de secretariados (com seus respectivos cargos e penduricalhos), além de outros incontáveis departamentos e empresas públicas dividas por estados (com seus respectivos cargos e penduricalhos). Dividir para melhor corromper, dividir para mais onerar, dividir para melhor concentrar o poder.

Aí é que está a questão: dividir um estado em dois, três ou dez é multiplicar o potencial de desvio - posto que a possibilidade de controle e de fiscalização também se divide -, além de permitir que algumas famílias de poder local acentuem a prática do coronelismo moderno, mantendo até mesmo algumas das práticas do coronelismo das oligarquias rurais da Primeira República, o que hoje é possível pelo misto de ignorância e inocência a qual se submete ainda boa parte da população.

Não ao aumento inútil do gasto público.

Não à concentração do poder nas mãos de alguns privilegiados.

Não ao aumento dos corrompidos.

O NÃO para a divisão do Pará foi um NÃO para tudo isso, mesmo que as discussões entre os paraenses tenham corrido em outros termos, mesmo que não tenha sido este o objetivo do NÃO pela maioria dos paraenses.

Carajás e Tapajós o Barbalho!!!!!

04/12/2011

ADEUS AO MAIOR FUTEBOLISTA DE TODOS OS TEMPOS

Eu não falo simplesmente do brilho dentro de campo (e que ele tinha, gigantesco), não falo da capacidade de decidir (quantas vezes ele não foi decisivo?), do número de gols (uns 350 na carreira), de títulos ou de prêmios; é mais abrangente que isso. É sobre o ser humano que ele foi.

Mesmo sendo Pelé incontestavelmente o maior jogador de futebol de todos os tempos, e que ainda tantos outros possam ter jogado um melhor futebol, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira é o maior futebolista de todos os tempos. Porque, juntando o excepcional jogador que ele foi, o craque que só não brilhou mais porque sabia e defendia com unhas e dentes que a vida era muito mais que tal esporte, o craque que não se preocupava em ser um atleta na estreiteza do aspecto físico, é preciso ainda ponderar o excepcional homem que ele foi. Sabia e queria viver, na plenitude da condição de Homo sapiens sapiens. Cometeu seus abusos e erros, infelizmente, mas até isso serve para mostrar o ser humano completo e por isso complexo que ele foi. Com tudo isso junto, não tenho dúvida, podemos colocá-lo, num conceito mais abrangente, como o maior futebolista de todos os tempos.

Quando jovem, chegou a declarar que, entre futebol e medicina, ficaria com a medicina. Aquele que desenvolveu um jeito de jogar, uma marca registrada com seu calcanhar, para ganhar a massa, a torcida, para alegrar, divertir e fazer do futebol aquilo que acreditava o esporte ser: espetáculo. Um homem que, sem pecha, com transparência e clarividência, defendeu um papel mais positivo do futebol para os jovens,  pregando aos clubes não apenas a preocupação em formar atletas, mas também a de pensar em formar homens, cidadãos. Criticava aberta e duramente as grandes estrelas de futebol chamando-as de "crianças" que não sabem o que querem ou sequer o que é melhor para as próprias vidas, reféns de empresários, procuradores, assessores de imprensa, de imagem, disso e daquilo. Afinal, um cidadão, um homem, uma pessoa consciente, teria plenas condições de administrar a própria carreira, tocar a vida.
Sócrates, o Doutor, o gênio não simplesmente com a bola nos pés, mas gênio na vida, e que, maduro, adulto, transformado em completo, ia além de afirmar que ganhar não era a coisa mais importante no futebol: ganhar para ele simplesmente não era importante!

E como tudo começa? Começa num país refém de um sistema político que matou, torturou e "sumiu" com milhares, um regime que condenou o país à ignorância que ainda persiste, amarrando-nos à intolerância e ao extremo (por conta do extremo tamanho do autoritarismo, o fim do período militar nos fez mergulhar no extremo da pura libertinagem a nos consumir). Aí veio ele, com outros companheiros, dentro de um clube de futebol com milhões de adeptos, ensinando que as pessoas têm que ter autonomia, consciência, liberdade, participação, discussão, entender o compartilhamento de decisões, ganhar maturidade. Liderou, organizou e foi o maior expoente da Democracia Corintiana, o mais fantástico movimento no futebol mundial, indo muito além das quatro linhas do gramado. E mesmo assim, ele jogou demais! Um dos 100 maiores de todos os tempos. Não à toa, capitão de um dos maiores esquadrões formados no Brasil, a Seleção Brasileira da Copa do Mundo da Espanha, em 1982.

Foi a maior figura, dentro e fora de campo, de um dos maiores clubes do mundo.

Foi embora deste mesmo clube e do país  porque as eleições aqui continuariam indiretas, sem a participação do povo.

Sócrates se foi. Que dia triste, que dia sem graça, que dia cinza!

Sou absolutamente contrário aos "minutos de silêncio" que haverão hoje pelos estádios do Brasil afora. Afinal, sem Sócrates, o futebol infelizmente se tornou absoluta e definitivamente silencioso. Refém da mesmice, do que há de mais estúpido no senso comum e nas concepções fáceis da esmagadora maioria que há muito já se esqueceu qual é a essência da existência da prática esportiva.

O time no qual ele brilhou entra em campo, logo mais, com enorme chance de ser campeão brasileiro:  ainda que superando o rival, ainda que dando espetáculo, mesmo que seja uma goleada...

Haverá o que comemorar?

30/11/2011

ISSO AINDA EXISTE!!

Dois episódios, ontem, fizeram eu recordar que este sítio aqui existe!!!! Então, vamos lá, vamos publicar um a mais, na peneira cada vez mais difícil... Peneira que sempre me põem num sorriso, porque as leituras me trazem frequentemente as lembranças do mote da escrita. Essa foi resultado de um dia de premiação, quando recebi duas medalhas pelas quais não pude dar atenção, então roubada por uma presença, e depois um assomo de coragem interrompido no meio do caminho.
Tudo o que faz lembrar o que fui e, certamente, continua ingrediente do que hoje sou, embora as lembranças, felizmente, sejam apenas lembranças.

BALÍSTICA

Da procura que não faço resultam
duas mágoas, mas a culpa não se espelha
apenas na minha imagem
teus olhos também te acusam e tuas palavras
dissimulam o que guardas no canto mais recôndito
do teu coração.

A divisão que causas, nada sanável, em mim se apresenta.
Fecho os olhos e tento a sorte nos passos seguintes
escuridão não é o que encontro, mas sim ilusão
de que eu esbarre em outro alguém que te
ofusque e que apague definitivamente aquela que me
marca e me persegue e me atormenta desde há tanto tempo,
e me tornando um cofre de sentimentos prestes a explodir,
porque não há escape, alívio, descanso.

Até que estes passos incertos de olhos vendados façam
com que eu caia morto.
Todos pensarão ser teu o disparo, mas a
balística revelará que tua flecha negra foi
atirada com minhas próprias mãos.

11/11/2011

Homenageando um amigo...

Nos últimos dias, conversei nas redes sociais virtuais com um amigo das antigas, grande amigo, aliás, um dos que tenho muitas saudades. Discutimos acerca dos acontecimentos na USP e, embora não tenhamos discordado, certamente não convergimos o suficiente - muito embora também não tenhamos alongado a discussão. Pensei muito no meu amigo Tatu, nestes últimos dias, o que me levou a procurar o que vai abaixo. Coisa de vinte anos atrás, um dos textos que, à época, ele claramente demonstrou apreciar. Tem mais um que ainda estou à caça.
Ah, tanto minhas linhas quanto o "apreceio" dele são de adolescentes...

DESEJOS

Seus olhos, mesmos gelados,
já não me olham mais...

Suas mãos, ainda que crispadas, 
já não me tocam mais...

Suas lágrimas, sempre quase sempre secas,
já não caem mais por mim...

Sua voz, insistindo na indiferença,
já não repete mais meu nome...

Seu peito, cada vez mais compassado,
já não tem mais emoção...

Eu sei,
nada disso nunca aconteceu...
Mas, ainda assim, sua visão
ao menos me permite ilusão.


05/11/2011

Muito antiga, quase tudo tão atual...

SEM NOVIDADE

Assim se leva uma vida vazia,
procurando encontrar um tipo de alegria
que nos faça mais reticentes
com o que nos tornou incoerentes.

Sem ter a simples vontade de ser diferente,
caminhamos de encontro ao destino
enfrentando caminhos de puro desatino.

Mas resta sempre esperar uma novidade
que se acaba em cada novo passo;
retorno a encontrar infelicidade
insistindo em entender o que faço
de mim,
pobre, iludido,
esperando mudar-me com o tempo, enfim,
tão perdido.

Só em novos fracassos e decepções
percebo a mensagem das lições
aplicadas enquanto fujo da consciência:
pequenas porções de dor que mostram coerência
e assim farão com que o caminho não
indique a saída antes do fim da ilusão.

25/10/2011

Vencendo a preguiça

Não ia publicar nada, embora precise ACABAR COM AQUELA FOLHA!! 
Mas um ligeiro equívoco me fez vencer a preguiça e recolher um escrito que nem considero dos mais... Elogiáveis... Ou aceitáveis... Enfim. Foi no dia em que recebi uma ligação na qual me informaram a morte de um sujeito que eu achava que nos tinha muito a dizer, e conseguia. Era 11/10/1996


A UM POETA
O Sol brilha,
céu de brigadeiro.
O dia não chora, o dia
não sabe...

Uma asa quebrada a mais,
menos um voo no vão de minha percepção.

Outro homem que se foi,
pleno de coração.
Sabe-se lá onde está agora,
talvez na companhia daqueles que,
um dia,
foram dele os ídolos que ele foi.

Poucos restam...

Sua imortalidade será fogo-fátuo,
ressoar de sua voz
na emoção e também na razão
de alguns pobres jovens iludidos
por suas palavras. Sentimentais?
Passionais? Irônicas? Infelizes?
Não sei.

O pássaro cai, adeus!
Amanhã nascerão flores onde
as palavras semearam esperança.
O dia ou noite,
nos braços da mágoa de mais um
imortal poeta,
sacrificará a esperança de novas palavras
dizendo não ao sorriso ou
ao desespero de quem tanto aguardou.

23/10/2011

Acelerando.

Como esse é longo, fica só. Mais dois ou três dias, guardarei para eternidade aquela amarelada folha de caderno.
Longa e ruinzinha... Perdi o fio da meada em algum ponto.

Amanhã, sem sabermos, o
Núcleo da verdade científica
Tornará os homens menos
Ratos, cobaias do medo de sentir,
Ousarem serem diferentes do senso comum
Perdidamente obscurecendo a
Originalidade humana e sua
Libido, seu corpo, defasagem
Ou frigidez
Gestada durante um lapso
Impossível de um tempo que
Assume proporções
Fenomenais, idealizados
Ao sonho de deixar para lá,
Ganhar momentos
Ignorando mistérios
Alterando o sentido da vida.

22/10/2011

Mais acrósticos...

Vou fazer uma publicação a mais, hoje, justamente com o objetivo de acelerar o "fim" daquela folha... Mais uma vez, dois com origem distinta, mas que tento combinar aqui:

Omitindo a própria
Liberdade de viver.
Hiato absurdo, massacrante,
A mais estranha sensação:
Recolher o que se sente.

Torpor...
É assim que
Deixo o tempo passar.
Ignoro sua voz
Operando uma deliciosa insensatez.

Naquela folha...

... o verso da montoeira de palavras, onde há os acrósticos, sempre falei que tinha um texto. Segue abaixo. Preciso me livrar desta folha (no sentido de transcrever e poder esquecê-la). É sobre o impulso de escrever, sobre o impulso que tinha de escrever. 
Por isso, talvez, haja tanta coisa reunida daquela noite. Relendo (sei que não será mais meu em instantes, mas ainda assim fica comigo a maior possibilidade de entender plenamente o que está escrito) percebo que estava cansado da aparente futilidade daquilo. Daí adiante não chegou a ser um silêncio muito rigoroso, mas o ritmo da escrita - que já não era nem a ínfima parte da quantidade absurda, de 10 diários, como tinha sido um dia - reduziu-se drasticamente.

Dois passos mais, 
um devaneio.
Dois dedos com
uma esperança,
dois olhos sem 
ter direção.

Meu destino.

Elipse atemporal.
Deserto. Insensatez.
É vazio. É pouco denso.
Não tem para onde ir
nem onde ficar.

Suspende-se no espaço e na memória
e pouco importa o sentido. O
papel está pleno e denso.
Minha mão cansada. A pena
esgotada. E a mentira
sombreia a doce
vulgaridade de me deixar ser.

(Votos de silêncio)

17/10/2011

Quebrando a sequência.

O verso daquela folha ainda tem mais acrósticos, pelo menos uns 8, além de outro texto. Mas vou "pular". Esse, sem título, provavelmente já é dos tempos de professor, com a produção já muito mais escassa.

Eu queria ter um
belo presente,
que não fosse perfeito
mas que tivesse a força
de servir a todos.
Escolhido
com simplicidade,
fora do campo da ambição.


Eu queria ter um
belo presente,
que fosse diferente
e que tivesse o defeito
de não servir para possuir.
Oferecido
na verdade
dentro do espectro do coração.


Eu queria ter um
belo presente,
que fosse para toda gente
com antiga ou recente
vontade de sentir.
Construído
sem leviandade
permeando o caminho da gratidão.

Eu queria ter...
Eu queria ter
mas não o vejo.
Talvez porque
o obscuro desejo
de São Tomé
valha mais que um beijo,
que na verdade não é de se tomar,
de se manusear,
mas que talvez esteja
mais próximo do que eu perceba.

Eu queria ter,
mas não tenho...
Deixe estar,
o importante mesmo é ser,
e até começo a ver
aqui, comigo,
o que esperava,
e deixo o belo presente
para cada um de vocês.

15/10/2011

Tudo do verso...

... daquela folha de 96. Mais uma combinação de dois textos então distintos.

Parece piada,
Idiotice de uma lembrança
Apalermada, ignorada
Diante a falsa prepotente importância
A calar tantas outras vozes.

Mentiras superam
O senso da verdade
Roubam a essência,
Alteram o que não é tão simples
Lembram o que um dia já foi.

13/10/2011

NO VERSO DA MONTOEIRA DE ONTEM...

... Tinha um texto razoável e aquela série de acrósticos. Disso aí devo ter feito, sem exagero, milhares. Era hobby, vício, fazia com facilidade, inclusive para os alunos, nos primeiros anos como professor. Todos eles eram separados no verso daquela folha, sem "ligação direta"; mas vou colocar, aos poucos, alguns combinados. A ideia é interessante...

Frio escuro
Escondido no tempo
E ausente a razão,
Liberdade para sentir.


Suavidade
Ou rudez,
Foi assim que
Tentei entender.

Além disso, hoje incluo uma música gravada com o amigo Rogério Durante "solando" no violão. É o cara que, nas imagens da montagem, aparece com a guitarra.

12/10/2011

10 ANOS DEPOIS...

Se ontem coloquei um texto de 1986, hoje publico um de 1996. Segundo ano da faculdade, primeiro semestre, chegando consideravelmente atrasado numa aula de filosofia (tínhamos quase todo dia apenas uma aula de quase 4 horas). Meu atraso deveu-se a motivos profissionais, uma ameaça das inúmeras "viradas de noite" trabalhando. Estava cansado. De um lado, uma série de acrósticos mais um texto, razoáveis. Do outro, esse amontoado abaixo. Não tentem enxergar muita lógica...

Olha a paciência, o sinal, a coceira, o cansaço. Pare de falar ou comece do 0. 0 é o mesmo número que traduz a vontade que tenho de manter minha cabeça ocupada com uma tal de "inferner"do anes que não conheço da brochura que não tenho do "evidentemente" que só ouvi e do indivíduo genérico alucinado quando ouve por cinco minutos a mais desconexa explicação do mal do que fazem para que ele pare e ouça a voz da consciência e PARE PARE PARE com este capítulo com este versículo com este episódio com este trecho com Marx e esse outro alemão, feiobarque que eu não sei que diz que infinito e coisa e tal sou natural posso ser mudo mas não surdo ñ posso mais não posso + NÃO POSSO MAIS quero conforto só agora quero agora só conforto quero a mão perdida no perdido ponto da preta tinta da caneta sujando as mãos (as minhas não) meu dedo está limpo meu olho enche o saco meu braço está cansando o papel na metade a letra uma droga o barulho um messias barrabás cristo maomé grego perdido em roma querendo chegar em vasinguitoun e sem mais sem mais sem mais o que dizer eu não quero mais ver não quero mais saber não quero mais escrever mas escrevo p´r´o tempo passar mas meu relógio não andameurelógiotáquebrado meu joelho tá doendo tem gente pensando que eu tô anotando da aula mas eu ñ tô  EU TÔ CAGANDO E ANDANDO pra cair perdido no meio de um assunto que não sei do meio não dá hum hum o CACETE eu quero eu quero eu não ser o que quero pero no mucho that´s my way, brother of sister of ant Jane wife´s Tarzan? Inverti não sei responder não sei perguntar nãosei esperar não sei se vou continuar ou se vou chutar o saco de merda e se feder e se sujar e se cair e se lambuzar eu mijo em cima com pó de serragem e sopa de  tartaruga e carne de capivara e carne de paca e rãs e ovo frito e leite queinte e mão pra cima e mão pra baixo gastei e daí que se foda vá tomar no cú que eu quero sair vou sair depois do intervalo mas o intervalo não chega eipede porra nenhuma necessidade pra mim é banheiro WC privada bidê vai se foder vai aprender a lamber sabão e eu quero uma mão para parar porra podre puta pariu pelo menos AH HH HH lembrado estchutchura chulé doca DOCA Kpitau do inferno Karl MAX e MARX WEBER letras não são nada palavra é nada multiplicado parágrafo é nada potencializado página e nadainfinito e livro é pralea do nada cagada fedida cheirada parada o papel já era mas eu não quero parar não quero deixar cadê cadê mais o outro lado tem coisa os pezinhos da história os hominhos

11/10/2011

AMANHÃ É DIA DAS CRIANÇAS...

...Então, resgatei um texto de quando era criança. Vou copiar ipsis litteris do fac simile que tenho em mãos da redação solicitada pela professora de Língua Portuguesa Eli Bernadete Sabatini Petrella, escrita em meados de 1986, pelo aluno Sérgio Luiz do Prado, Nº 19 da 6ª "B" da EEPG "Prefeito Aldino Pinotti". A professora deu uma tremenda bronca no aluno, diante toda turma, afirmando peremptoriamente que o texto não poderia ter sido escrito por mim. Consequentemente, teve início uma "pequena" discussão...
Em tempo e adicionalmente, faço um comentário: era muito mais fácil e confortador acreditar naquilo que permeia o texto...

QUEM SOU EU?

Quem sou eu? Quem somos nós? Seres derivados de Deus? Destruidores de suas criações?
Somos verdadeiros carrascos da natureza, seres que não se respeitam, que destróem a si mesmos.
Somos de um mundo sensacional, que aos poucos destruímos e o deixamos pobre.
Meu espírito se lamenta, e em horas como essa, me dá uma desolação em que sou capas de me matar. O quê farei? Só serei feliz quando rever Deus e, para isso, preciso me esforçar para não fazer tantas coisas que faço, acabando comigo mesmo. Afinal, o mundo me fez assim, e não Deus. O mundo me desgasta, me deixa triste com as más notícias. Destróem a natureza, e essa revoltada retruca com terremotos, erupções vulcânicas e outras coisas do mesmo gênero. Acho que não sou nada, sou apenas um, entre todos, um milionésimo de poeira cósmica, diante d´outro universo que não conhecemos, ou seja, o resto de tudo que existe além de nós. Não acreditamos em nós. Nos julgamos os maiores, mas somos os menores. Acho que a vida hoje só nos destrói. A vida já foi boa. Mas e agora? Desvalorizamos o maior presente de Deus? O que sobrou deste magnífico presente? Ficou reduzido a uma simples bola, chutada todo tempo. Chegamos ao alge. Nós nos destruímos, e depois, destruímos tudo a nossa volta. Morremos, morri. Meu espírito está quase morto.
Descobri o que sou. Um abstrato, um derivado de Deus.

23/09/2011

O nome assusta...

... Mas não há nem havia qualquer razão para preocupação.

MATRICÍDIO

Caíam os olhos desfeitos em
mágoa.
Agitavam-se as mãos tensas,
puro medo.

Reconheci, na figura
melancólica de um órfão,
algo tão próximo do desamor
que tomou conta do meu espírito
naquela tarde inconsistente.

E, daquela figura,
me transfigurei;
transformei
minha dor num ombro
banhado de consolo.
Mais uma vez esqueci-me
das próprias dores
e mostrei o que sou.

O que sou?

20/09/2011

MARIA ANTONIETA E O MALANDRO - OBSERVATORIO DA IMPRENSA, ED. 660 - 20/09/2011


Já há alguns anos, vivo um problema: meu fígado não suporta mais leitura de “jornalões” ou “revistões”, tampouco a audiência às “radionas” (no feminino, pois trato das emissoras) reacionárias do meu brasilzão, quanto menos do que dizem ser “jornalismo” nas TVs. Isso me expõe ao constante risco da ignorância sobre os fatos cotidianos, no qual não mergulho porque, felizmente, parece que no mundo não há mais novidades. Então, meu amargor oriundo dos absurdos do que ainda ousam chamar de “imprensa” mantém relativamente sob controle.
Entretanto, é relativamente sob controle, uma vez que não passo incólume ao que a mídia em geral expõe, noticia e divulga. Afinal, vivo em sociedade e muitas vezes, quase sem querer, acabo lá contatando tais absurdos, perpassando alguns modismos ou alguns nomes da moda. Um destes aí, da tradição reacionária da mídia escrita brasileira, é Luiz Felipe Pondé, que escreve artigos na Folha de S.Paulo. Não bastasse tudo o que eu ouço falar, além de alguns excertos, uma colega professora já me “brindou” com três recortes de artigos desse senhor.
No primeiro deles, ele elogiou o livro de Leandro Narloch (o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil), dizendo que o mesmo se amparava em boa documentação e “notas bibliográficas fartas” – aliás, no que ele tem razão, mas esqueceu de observar que 9 em cada 10 referências do Guia... sirvam para sustentar as teses correntes, e não a irônica e quase fascista visão de Narloch; no segundo deles, chamou os manifestantes de Londres de “sem-iPad” – e eu concordaria com ele porque realmente os incidentes pareceram muito mais fruto da insatisfação por não se conseguir alguns confortos do modo de vida liberal burguês do que insatisfação com a situação em si; entretanto, é evidente que tamanho consumismo é fruto, sim, da dinâmica social que vivemos, o que ele nega, atribuindo culpa ao comportamento moral, ou à falta de moral dos indivíduos (calma, não pasmem ainda!).
A moral do malandro
Por fim, no terceiro deles, publicado recentemente (12/9/2011) sob o título “Marketing francês”, ele busca diminuir o valor histórico da Revolução Francesa tachando-a como mera experiência de “marketing político”. Isso tudo porque o “povo”, que ele trata tal como um falso axioma, foi “violento” e, vejamos, das revoluções burguesas, foi naquela lá da França que essa (para ele) misteriosa entidade chamada “povo” tomou parte efetivamente, sem meramente contemplar ou ser levado de arrasto. Como se não bastasse, ele critica a razão revolucionária oriunda do Iluminismo – essa não me surpreende, em virtude da sua tamanha religiosidade sem religião.
Por fim, citando uma única historiadora (o que, segundo seu conceito, permite considerar que seu artigo apresenta uma “farta” base bibliográfica), as revoluções burguesas britânica e estadunidense foram muito mais importantes “pra mim, pra você, pra nós” do que o Iluminismo e a Revolução Francesa. Entendo suas razões... Os dois movimentos foram elitistas, não com o “povo”, embora tenham precisado dele em alguma medida. E, é claro, ele não podia terminar seu artigo sem dar uma cutucadinha em Marx, a grande pedra no seu sapato.
Sinceramente, eu ri... Lembrei primeiro, da versão “O Malandro”, de Chico Buarque: o “povo”, e “violento”, paga o pato por todos os problemas do mundo, assim como o malandro pagou o pato só porque filou uma cachacinha; já o português, o atravessador, o alambique e os banqueiros são vítimas da “falta de moral” do malandro, então podem roubar, desviar, falsificar, sobretaxar etc. Assim como a elite burguesa francesa, que depois não “aguentou o tranco” e abaixou a cabeça para o córsego baixinho.
Postura político-ideológica
Depois, lembrei de Maria Antonieta, que sugeriu ao povo comer brioches na falta de pão. Ora, o “povo”...Sans-culottes? Provavelmente só se revoltaram porque não tinham recursos para adquirirem a pecinha do vestuário. Sans-culottes antes, “sem-iPad” hoje... Fome? Que fome, qual nada! Voto universal para quê? Certos estavam os protestantes ingleses que derrubaram o rei, enquanto o povo trabalhava. Ou a elite colonial que, até o Primeiro Congresso da Filadélfia, preferia manter os privilégios coloniais ao invés de uma independência que pudesse dividir o poder, ainda que mal e porcamente, com o “povo”.
Realmente, a Revolução Francesa é supervalorizada em relação às revoluções Puritana e Gloriosa e à Independência das 13 Colônias; mas há uma explicação clara e evidente para o fato, que não reside na participação do “povo” no movimento. O problema, que Pondé jamais poderá enxergar – tamanha sua passionalidade ideológica, que ele tanto nega –, é que o ideário liberal-burguês já nasceu com uma mentalidade como a dele, que tira do “povo” quase até mesmo o direito de existir.
É hora de uma série de articulistas, tão presentes e tão repercutidos na mídia, ao menos terem a coragem de manifestar transparentemente a postura político-ideológica que defendem. Ao público, é impossível continuar admitindo que tais “pensadores” arrotem independência, coerência, racionalidade, neutralidade e imparcialidade, quando o âmago das suas teses se alinha claramente com uma maneira de ver o mundo.

16/09/2011

Tomando cuidado...

O interregno já foi maior porque fica cada vez mais difícil selecionar algo que valha minimamente a pena e que eu já não tenha incluído aqui. 

Nada sairá dos nossos corações
enquanto cada raio de luz da razão não
fizer adormecer as nossas dúvidas.

Nada brotará em nossa sensibilidade
enquanto cada gota de lágrima do mundo
não fizer-se drama universal.

Tantas mãos
separadas por um vazio de motivos,
toda angústia
e mágoas viciadas em negação.

E a distância...
Eterna distância que apavora
e nos isola
e nos desola
e nos desune...
Pasmadoramente, desune e
faz com que as mãos, além de separadas,
crispem-se no desolável receio da compaixão.

07/09/2011

07 de setembro...

Já é tradicional que o 7 de setembro seja também um dia reservado para manifestações populares. Infelizmente, independente qual seja a manifestação, elas pouco são abordadas pela mídia em geral.
O texto que recolho hoje tem uma pequena relação com isso...

MALOGRADO

Com o peso do mundo nos ombros,
homens caminham e tentam sorrir
sozinhos
sabendo que cada qual é igual
ao amargor de não sentir-se impune.

Cada qual procura a eternidade
no soar dos doces passos,
mas eles se arrastam
se submetem
ignoram seus receios.

Cada qual encontra a verdade
dissimulando seu passado e
modificando estereótipos óbvios
que trazem à tona a essência
do viver
nada
caminho
ilusão.
É assim que esquecem-se de viver.

04/09/2011

E O TEMPO PASSA...

Sempre que posso usufruir de uma pausa para reflexão - e isso é cada vez mais raro - noto mais claramente o quanto mudo com o passar do tempo. Fico burilando aqui meus papéis, em enorme quantidade, alguns com temporalidade evidente, outros sobre os quais preciso parar, fazer um esforço de memória e de coração e tentar lembrar o que se passou. Prova dessa mudança com o tempo é o que está aí abaixo, tempos em que eu ainda acreditava em certos imperativos, crendo na absoluta necessidade de ver todos observando o horizonte com os mesmos anseios - em tudo aquilo que é global, para todos. Isso deve ter mudado há muito tempo, mas tamanha insatisfação com a indiferença, à época, num ambiente realmente diferente daquilo que eu era e esperava ser, árido demais enquanto eu, iludido, esperava ver semear e cultivar a busca da justiça, levava-me para uma busca de alívio, de atenuantes para o incômodo intelectual. Hoje, espero muito menos. E hoje, onde estou - ainda bem! - encontro muito mais, despeito de ocasionais gigantescas discordâncias.


TEREBENTINA


Aos poucos, Sol a Sol,
num ambiente seco -
talvez infrutífero -,
ignorado pelos criadores de
palavras fortes,
ávidos por sorte,
terminei como todos:
ignorantes, tolos, infantis
cuidando do sem fim para
amargurar um pouco mais de incompreensão.

E o que houve?

Cada vez mais,
há tolos, infantis, ignorantes
amargurando sua incapacidade
trabalhando em prol do vazio e
analisando o que há de triste em sobreviver.

02/09/2011

ESSA TEM UM FILTRO...

É que o original (e fica no original!) está em inglês. Escrito exatamente em November 18th, 1992 - Aula 29A (era a penúltima).

"Free theme"

 This life was dropped by me
trough the midnight shadows,
full-moon nights, when my subjectivism
takes care of my old notes.

Sky crossed by birds
their tails show us the magnitude from
plumes.
Plumes that create a little sense,
making me forget the destiny of my soul.

It condened by my acts
I must be in pain to recognize the truth
and to have right to go to the most
beautiful place.

The pavement of glory is
beside that man, encaged in his
own mind.
I set myself free from my heart
but now
I don´t know where I am.

Where am I?
In "the corner of some foreign field"
living these years with insanity
between the empty spaces inside myself?

01/09/2011

Olhos e sangue

Traz de uma frase vazia
o mais constante verbo.
Realiza, empobrecido da verdade,
a transformação indesejável do nada para
a flor mais estuporada e malcheirosa.

Seus olhos estarrecidos com a revelação do absurdo
memorizam o contemporizador instante
da estupidez ininigualável.
Treme, dança em papéis,
simula telepatia e, por um instante único
e distante do tumor,
carrasco e excrescendo do fim dos dias.

Sua mão esbranquiçada, falecida,
segura o que julga a última arma:
não há quem deseje voltar
a Lua não substitui o Sol
e o frio congela a esperança.

28/08/2011

A-SOCIAL

No vazio, limite da convivência
e bloqueio dos velhos anseios
é algo usual e perene aos
frutos da vida.
Sem lógica,
o mundo passa
oprimindo qualquer manifestação razoável de
esperança.
Uma pseudoestrutura amarga e cruel
denomina os fatores comuns de um negro futuro.

É um jogo comum
que hesito em praticar;
são olhares penetrantes invasores dos detalhes,
desconhecedores das escolhas,
iludidos pelo lugar-comum.

Sempre há um diferente, e se sou,
não foi essa a busca. Concorrência
de outrem, consequência das atitudes.

Sou assim. Não pela escolha de ser,
mas por onde pequenas escolhas me dirigiram.

24/08/2011

ATÉ O DIA EM QUE SEREMOS NINGUÉM

Só porque não posso mais
só porque não quero mais
só porque não sou mais eu
só porque não mais te vejo,
só porque esqueci quem fomos.
Só porque perdi o medo e ando, observo,
modifico e afirmo. Só porque sou eu.
Só porque aprendi a crescer, porque
amanhã não serei mais ninguém.

FIM CHEGANDO AO FIM

Com o olhar de quem nada contempla,
caminhava no deserto humano.
Sentia frio.
Minhas pernas pareciam máquinas,
movimento cíclico, ininterrompível.
Não podia notar o mundo, as
pessoas caminhando no sentido contrário,
ao meu lado outras, formas não simétricas,
absurdamente distintas.
Não havia objetivo, por isso insistia.
Mãos nos bolsos, cabeça erguida pela
ausência de vergonha. Ausência do medo,
nada de paixão, nenhuma busca,
completo recolhimento espiritual.
Pretensão não existia; era uma solidão
passiva, inconsciente. Solidão solitária.
Minha subjetividade contestada,
minha racionalidade ignorada.
Não reconhecia o som das palavras,
meu rosto fez perecer todas as formas de expressão.
O caminho era o caminho, como que se
o tudo a fazer já fosse o nada.
Vazio, meu corpo parou. Vivi intensamente
por mais um segundo.

Foi quando tudo ficou para trás...

20/08/2011

Pretensioso...

É mole querer homenagear John Winston Lennon? Eu tive essa pretensão... Tempos depois de me render e adotar The Beatles como a melhor coisa que o mundo da música popular já produziu, aceitando o rótulo de beatlemaníaco...

One more New Utopian (Lennon in memorian)

Os olhos estão cansados,
quase se fecham. Sua
têmpora lateja. Seu braço já
não sente mais o
silêncio da madrugada quebrado constantemente pelo
virar daquelas páginas envelhecidas que
refletem em sua alma como o agudo
fio do punhal. As palavras, embaralhadas
entre o sim e o não, comovem-no.
Sua utópica esperança o faz trabalhar.
Esqueceu seus poetas, seus amigos
de histórias das quais não participou.
Pensa nas crianças seminuas nas ruas
tremendo de frio e fome. No adolescente
fugindo do projétil, no órfão chorando,
já conhecendo o medo mesmo
em sua inocência.
Esgotado, ele para. Não, não desistiu.
É uma pausa para secar aquela cristalina
e tênue mágoa que seus olhos
cansados deixaram escapar
até o adorador do apanhador para sempre
vidrar sua janela d´alma.

HOJE ESTOU INSPIRADO!!

A musculatura da perna dói por causa do futebolzinho mas não há sono. Então tenho paciência para continuar meu garimpo. Também é aceitável, esta aqui de baixo. Do tempo em que só não tinha religião (garanto que é bem mais confortável que o ateísmo...)

Tornamos simples a vitória dos esquecidos
e esquecemos de vencer os eternos exilados
da paixão.

Pobremente eles fizeram-se mais fortes
julgando com excessos o que mais desconhecem.
E o excesso nunca sempre equivocado
avilta a beleza humana e a dignidade
estupefata da vida.

Agrada-me não estar abandonado nesta luta
mas todos sabem que não sou
forte o bastante para apenas admitir o óbvio:
estou constantemente rendido pela paixão.

Só não deixo de fazerem notar um fato:
o cansaço é o entorpecente
mais frequente
mais vicioso
mais cruel
mais nefasto
e o mais simples de ser debelado.

Venci aquele antigo vício de aceitar o
dia-a-dia!
Agora,
acompanho-o com ironia
sorrindo dos seus erros
e aguardando o exato instante de dar o bote.

19/08/2011

Proletariado, cara pálida???

Tempos de faculdade, ou lembranças da faculdade (acho que foi poucos anos depois...) Ou no boteco (num clube de bocha, da "terceira idade", a "Associação") ou num churrasco qualquer. Lembro lá eu porquê?, mas começamos uma discussão sobre a falência do "socialismo real". Saiu um texto no dia seguinte...
Lembrei porque vejo gente sentindo o odor de "revolução" no que aconteceu em Londres. Claro que é insatisfação, mas que foi canalizada para o vandalismo fútil e sem sentido, com serventia apenas para justificar o viés repressor. Pra falar a linguagem sectária e dogmática, quase engraçada, foi "insatisfação por não conseguir os pequenos luxos pequeno-burgueses que servem como canto da sereia capitalista". Na época, o que saiu foi isso.

Foi o
Sol no lado Leste
resultado prematuro.
Vítimas do perjúrio e
inglória glória vã,
ufanesca,
utópica e devanescente.

O
inimigo recrudesceu e
fechou mais suas garras.
Pior: como lição,
sequer a cegueira sectária.

Dos muros que caíram -
não era sem tempo! -
devia restar a esperança
a fé no humano
o pátio sólido e consistente
de um mundo menos cruel.

16/08/2011

ESSA JÁ ERA LEMBRANÇA!

Ao refletir sobre determinada época na qual, ao invés de viver, eu escrevia como era viver, senti-me enraivecido do absurdo daqueles dias, das tantas oportunidades que desperdicei, do quanto (e  quantas vezes!) disfarçadamente me ofereciam tanto e eu, tantas vezes percebendo, algumas não, abri mão. Então, decidi que ter vivido desta forma era completamente errado! Para demonstrar meu incômodo de tanto desperdício de vida trocada por uma compulsiva e exclusiva paixão pelas palavras... Escrevi!

Porque não dormem incólumes aos vícios d´alma
enquanto o poder da palavra entorpece a vida?

Porque despertam sempre tensas, prontas
a fazer perder o doce instante da poesia?

Porque, enquanto caminho tendo adormecido
rancorosas lembranças, vos levantam e vêm de pronto
derrubar a paz e a vulgaridade acariciante em que
ponho minha mente constantemente matizada?

Porque, além de tudo, vosso desfalecimento me comove
a ponto de tomá-las em meu colo e dar-lhes sanidade,
ordem,
em meio a desordem onde ordenam-se meus sentimentos?

Por quê?

Porque não suspendem a pseudoeterna hibernação
que quase sempre me convence da calmaria?
Por quê? Por quê? Se não sei, aguardo a chance!

Quando, um dia, meus atos estabelecerem grilhões
para vossas tão traiçoeiras fugas,
estarei pronto a amar devotamente
louvando e poetisando a vida,
mas com o cálido hálito humano.


14/08/2011

AS PAIXÕES...

Lembro qual foi, porque foi intensa. Claro, hoje não importa mais. Já eram dias de menos imaturidade, de falta de tempo, trabalho e escola intensos, já mais para sozinho nos trilhos da vida. A lembrança está aqui por causa das linhas que possibilitou-me produzir, cheia de "pessoísmos" (quem dera...)

Não me canso de escrever
os mais torpes versos,
na cadência de minha ignorância
e nas saudades dos teus olhos
que marejavam os meus,
dos teus braços que os meus
e aos meus
envolviam
do teu colo que me abrigava.

Sê a mim o anestésico das dores d´alma
agrada-me com a ferocidade da paixão;
não esqueças a inexorável dependência a
cada passo teu
que a tênue linha da vida em mim produz.

Não há luz, não há
sensação que apague
o que deixo de sentir quando
tua ausência notou-se em meu peito.
Não há vitória. Não há disputa
abdico a qualquer glória
se os frutos das vitórias
contigo não posso partilhar.

09/08/2011

BOBAGENS, BOBAGENS... BEBAGENS

Quando vou peneirar meus rabiscos, no meio de tanta bobagem e infantilidade, encontro algumas coisas pelo menos interessantes. O problema é que algumas são interessantes justamente porque vivia o tempo inteiro de modo equivocado. Mesmo assim, se por um lado "atrasei" minha vida, cresci e amadureci de uma vez tudo o que faltara até então...


SÃO-INSANA


Egoísmo da nação,
minha soberba,
até gargalho de indignação!

Corpo cansado perdido
sem tempo para pensar.
Melhor assim,
prefiro assim -
mentira -
não existe mais, por enquanto,
o risco da loucura.

O corpo dói,
que bom,
o corpo dói...
A cabeça dói,
isso não é bom,
a cabeça dói
e prejudica o meu pensar!

Tenho tempo para chorar, gritar
refletir dos sonhos e pesadelos
entregar todo relato de mãos limpas
eu posso tentar mudar.

Mas eu resisto tanto quanto meu corpo
espero de mim tanto quanto posso,
na ordem inversa do estado mental.
A dor não pode mais que
a dor de não poder mais.

Afogar a consciência,
sem ar,
sem estar no mar,
com o inconsciente dilatado
pelo medo de estar consciente.

07/08/2011

SEM SENTIDO, ALGUM SENTIDO...

São duas: uma, invenção e (falso??) neologismo, certamente teve algum sentido (esse é o resultado de abandonar o que se faz... Como é que vou lembrar???), a outra, direto no plexo, sempre será plena de sentido. Respectivamente...

SINAPISMO

Parece pouco provável
que queiras quantificar
muitos meios melífluos
de doar, dever, dividir
conquistas, corações, comoções
sentimentos, solidões, serenidade
e encantamentos estupidificados.

Vôos, visões, viagens
são sonhos superficiais
tenuemente transformados.

Todo esse jogo,
todo esse esquema,
não passa do dilutável desejo
de prosseguir... Em vão.


PÃO E ÁGUA

Somos nós quem deixamos o pão
acostumados ao não
de quem nos nega a ilusão
de um dia termos pão
negado
por quem nos nega a vida
e a morte
por quem nos cede migalhas
e a vida
não mais que sub vida
e a morte,
morte quem me dera ter
a vida
e a alma no meu corpo pobre
que mastiga restos do pão
negado
misturado a água suja e podre
de quem é tão podre e pobre
por ter tanto pão e a água,
de quem não nega o sim
e a vida.

03/08/2011

Antes do coma

A cura de um poeta
é uma injeção de vida:
uma ampola de amor carnal,
uma gota de maldade - meia de ignorância;
um cataplasma de contatos físicos,
uma pastilha de malícia,
uma cápsula de canalhice;
doses diárias de elixir de conhecimento da realidade e,
ao leite morno,
xarope de malandragem.

Doses calculadas,
ministradas com prescrição médica
adotadas para estes pacientes específicos,
para deixá-los
com a alma pronta para a lama do mundo.

31/07/2011

POLÍTICA

Fotografe o instante de
um sorriso aberto (hipócrita)
e verá que tudo não passa de um jogo,
jogo fértil,
com poucos vencedores,
e sempre
incontáveis perdedores.

Terá a prova, para as futuras gerações
que o futuro é uma linha cheia
de repetições do passado,
passado,
que se liga com os dias posteriores
na linha cheia de pontos brancos
e interrupções
e saltos
que fazem do presente
irrealidade e mescla de mentiras.

E noutros dias,
depois de curtos anos,
tudo começa de novo...
E a fotografia do sorriso falso
para sempre sabe, soa, parece
atual.
Tanto quanto a rotina de cada um,
a escolha de cada um,
o erro de cada um.

Tudo sempre assim, porque
assim é melhor,
o que mais convém.
O que não há porquê mudar.

29/07/2011

LINEAR

Ela veio!,
balançou os sonhos com a luz dos
seus cabelos que brilhavam e meus olhos
refratavam seu rosto para
dentro de mim.

Ela veio!,
trouxe minhas próprias palavras,
eu as tinha perdido;
as palavras refletiram quem sou
para quem ela era.

Ela veio!,
seu corpo esguio dançou meu canto
e sua doce voz traduziu meu sentimento.
O silêncio, palavra da fé,
refletiu semelhança ao amor.

Ela veio!,
eu estava ausente.
Ela estava ausente,
refletiu uma visão baça e nua
dos dias que jamais recuperei.


Fez muito sucesso entre aquelas que leram. Azar o meu que, em tempos de platonismo puro, quem tinha que gostar... Nem viu!

22/07/2011

Ainda vale a pena...

Ser professor de escola pública não é fácil. E a interpretação das pessoas sobre tal dificuldade, em geral, é muito simplista - inclusive por parte de muitos professores.
Eu sou um sujeito que tem verdadeira satisfação em retirar toda caixa de filtro de ar de um carro, lambuzar a mão de poeira e graxa, sofrer no escuro para desparafusar uma buzina, desmontá-la, limpar seus contatos, colocar tudo de novo no lugar e, no final... Vê-la voltar a funcionar! É a satisfação pelo resultado. Uma gloríola, admito. Muito pessoal e individual, inclusive. E é justamente isso que falta no trabalho de professor, pelo menos para mim: ver concretamente um resultado. Acredito que fazemos, em maior ou menor grau, um papel positivo para os alunos. Entretanto, são resultados que dificilmente podemos enxergar, porque eles aparecem quando os alunos não estão mais conosco.
Os resultados mais imediatos, os que cada um de nós gostaria de ver exatamente naqueles conteúdos, temas ou assuntos que trabalhamos, quase nunca acontecem. É por isso que tenho que agradecer minha aluna Larissa Stephany, da oitava série, pela disposição e interesse em ir além de pesquisar, escrever e apresentar o trabalho que solicitei, construindo o vídeo que vai abaixo...

Larissa, um beijo e obrigado pela singela lufada de esperança.

21/07/2011

DO FUTEBOL PARA A VIDA...

Sempre me considerei um apaixonado pelo futebol. Durante tanto tempo - a maior parte do tempo da minha vida - o vi como uma atividade deliciosa para quem a pratica, acompanha, comenta, torce, trabalha, irradia, analisa, etc.

Mas ultimamente tenho uma conclusão um tanto mais psicológica para o gosto que eu (e creio que muitas outras pessoas) tenho pelo esporte, que tem a ver com o que ele tem lúdico, do tanto que "brinquei" de futebol quando criança, dos times de futebol de botão que ainda guardo, de por causa dele (eu, muito pouco) ter vivido aventuras, conhecido gente diferente, enfim, de tanto ter me divertido nos anos em que, puro e inocente, via na televisão, nas fotos, nas revistas, tantos "marmanjos" também brincando e se divertindo com o esporte bretão.

O problema é que, conforme o tempo passa, na verdade felizmente, grosseiramente infelizmente, vai-se tomando tento do que há por trás das cortinas: falta de caráter generalizada, negociatas obscuras, malcheirosa promiscuidade com o poder público, montanhas de dinheiro, mentiras, etc., etc., etc.

Nestas duas últimas semanas, dois fatos do futebol chamaram extremamente minha atenção: a tentativa (efetiva, mesmo, será??) do Corinthians, o time pelo qual ainda insisto torcer, de contratar o argentino Carlos Alberto Martínez, vulgo Carlos Tevez, de 27 anos, pela módica quantia de 60 milhões de dólares. Ou seja, o clube brasileiro iria pagar 3 vezes mais para contratar o mesmo jogador que contratara no final de 2004 / início de 2005, então com quase 21 anos. Mais que isso: contrataria novamente o jogador pelo qual pagou mais de 20 milhões de dólares, fora salários e premiações por ano e meio, e que perdeu sem ver um centavo sequer. O time queria recontratar o jogador que saiu do clube como se fosse um proscrito, que "fugiu" na calada da noite sem dar satisfação, que abandonou o clube e, pior, seus companheiros de equipe, sem dar maiores satisfações e sem qualquer tipo de prevenção.

O outro fato envolve também a torcida, desta vez do Palmeiras, que ontem aplaudiu, ovacionou e berrou a plenos pulmões o nome do atacante Kleber quando sua escalação para a partida contra o Flamengo foi confirmada. Neste caso, é mais flagrante a postura de caráter duvidoso do atacante, que ficou quase três semanas envolvido numa suposta transferência justamente para o Flamengo. O atacante chamou o vice-presidente do clube, em entrevista pública, de mentiroso e mau-caráter, e não se pode esquecer que, há poucos meses, queixou-se de que não tinha apoio do treinador. Este é o mesmo Kléber que comemorava gols do Palmeiras e visitava as "torcidas" organizadas do clube enquanto era atleta do Cruzeiro, numa clara "forçação de barra", até que finalmente conseguiu sua transferência.

O angustiante, nos dois casos, é o apoio da sociedade, ou pelo menos pela maioria da parcela da sociedade atraída pelo futebol, aos atletas. Ficam evidenciados os valores que vêm sendo cultivados no mundo contemporânea, quais posturas pessoais são tidas como elogiáveis e corretas, sempre partindo de um ponto de vista abissalmente individualista; então, a partir do futebol e pela gigantesca, incomensurável e incomparável repercussão do esporte, podemos observar qual é o grau de adoecimento da nossa sociedade. E, do futebol, podemos extrair ainda um sem número de outros (maus) exemplos: a inocente e incoerente suposição de que os jogadores podem ter um comportamento dentro de campo e outro distinto na vida cotidiana (como se o caráter pudesse se dividir em dois), como se desperdiçam milhões e milhões no absurdo de organizar partidas de futebol  ("espetáculos") a um custo irreal, não compatível com as demandas sociais (gerais, não específicas, não estou falando de "fome" ou "miséria" simplesmente, mas de forma muito mais abrangente), das negociatas escusas e não-explicadas (porque não têm explicação e porque delas não se cobram explicações), do enriquecimento mais que suspeito de todos aqueles que se envolvem com o esporte, além de tantas suspeitas que não consegue-se afastar, de manipulação de resultados, de fraudes, de lavagem de dinheiro, de jornalistas e comentaristas divulgando e comentando conforme o seu "rabo-preso" com este ou aquele empresário ou com este ou aquele jogador...

Que é isso? O que se tornou tal esporte? Aliás, teria deixado o futebol de ser esporte? Virou pura e simplesmente "negócio"? É para isso tudo que se pregou e ainda se prega a tal "profissionalização"? Com tal objetivo deixou-se de "amar" a atividade, afastou-se o "amadorismo"? Não será este o palco onde, repito, exibe-se o grau de adoecimento e de apodrecimento de nossa sociedade? O que esperar? O que sentir quando se vê tantos meninos e, hoje, não poucas meninas, com o sonho de se tornarem "jogadores de futebol"? Como alguém em são consciência de tudo o que acontece neste "esporte" pode incentivar uma criança a entrar nessa? Por que o país (ou UM país, seja ele qual for) aceita organizar um evento como a Copa do Mundo submetendo-se a prática de privilégios grosseiros, escancarados e inaceitáveis a uma entidade e a "meia-dúzia" de empresas e empresários?

Não dá... A cada dia, fica mais difícil continuar "aceitando" o futebol ao mesmo tempo que se pensa o mundo. Tenho sérias desconfianças que minha parcela "criança" não resistirá a tamanha sujeira.
Queria eu ver apenas mais uns dois ou três pessoas que repercutissem como o Dr. Sócrates Brasileiro ponderando o futebol.
Pena que ele é um só...

19/07/2011

O que será...

...  que aconteceu de tão grave quando expeli em tinta o que vai abaixo?? Sinceramente, não me recordo. Era do tempo em que marinava meu fígado em... Bem... E que chamavam a mim e outros três de os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Pelo conteúdo, dá p´ra notar que havia um alto grau de injustiça, né não?


TERMO DE COMPROMISSO

Concordo com as leis que fizeram nosso mundo
e abro mão da minha sinceridade.
Passarei a seguir os passos de quem sempre
procurou me guiar para o lado do qual mais me escondi
durante os anos da minha curta e experimentada vida.

Tudo isso pelo desânimo de procurar flores
e encontrar apenas pétalas dilaceradas,
procurar verdadeiras amizades
e encontrar dissimulação em tantos caráteres
procurar o deleite da alegria
e encontrar apenas medo, fuga
procurar um tanto de amor
e encontrar tanto ódio.

Assim,
ergo minha mão direita e me comprometo
a lhe ser fiel!
(Só não posso prometer mostrar contentamento...)
Pois o mundo que me cerca era um que fizeram
questão de destruir. Caminharei ao lado de quem
repelia, de quem me assustava e
de quem me magoou.

Simplesmente para acreditar nas palavras...
Ser feliz me conformando com a vida, com a vida,
com a vida como ela é e jamais soube ser para mim
o que de mim esperavam e o que para mim queria.
Não precisarei mais sorrir
e poderei, finalmente, fechar os olhos e dormir
sem nunca mais permitir que  o inconsciente brote
dos confins das memórias mais belas para me
atormentar com a preparada lâmina das saudades.

Eu prometo me conformar,
eu prometo obediência
e prometo não ser mais quem fui.
Mudando a maneira que sempre procurei para
semear felicidade, agora irei,
com minha infelicidade,
colher os sorrisos de todos os que serão enganados.

Que me perdoe qualquer outro plano metafísico!

18/07/2011

Canção 1

Essa foi encomenda de um amigo músico... Que eu não mais encontrei! 
Tinha até linha vocal, mas eu não lembro direito não... E também tinha título, no original que perdi. Revi, reescrevi, perdi o refrão, ´tá aí:


Vagando nas ruas
sem saber onde vou chegar.
Sem destino, nenhum lugar...
Cabeça em uma, duas luas.

Com nada, e nada é pouco -
quase nada p´ra cobrir meu corpo
e não me conforta seu pudor
seu mundo repleto de dor.

Amanhã, mais um dia
um trocado sem valia
para curar o amargor de alguém como eu,
merecedor de mais do que você prometeu.

Só penso se quiser, e é, sei,
tenho mais que tentar fazer valer
mesmo que do meu jeito, com minha lei,
pois o que agora é regra um dia deixa de ser.

E sentindo ou não
a aguda dor da solidão
não é tanta a cegueira para me impedir
de afastar tão grande senão
no meio da bandalheira que, sei não,
mas ainda tem por onde ir.

Então sou eu quem faço minhas dores
peço ajuda até para os desertores.
Um dia, alguém vai enxergar,
por isso não vou me entregar.

Quando aceitarem assumir
o que realmente quero
vai ser mais fácil ouvir
ser, querer, aprender, viver.

13/07/2011

Por volta de 20 anos. Ambas têm nome! Reticências ao encerrarem...

Estes foram bons dias, grandes dias, faltava pouco para o ideal. Afinal, depois da tempestade, sempre vem a bonança.


Tais Estações

Claro, escuro, penumbra,
onde estão os homens perpetuados?
Somar, dividir, multiplicar,
qual o resultado do seu passado?

As claras manhãs,
as fugidias tardes de outono
as noites negras de Lua Nova;
a vermelhidão do Sol angustiado,
a palidez da Lua desenternecida.

Noites sem sono, longos dias,
tardes perdidas
janelas fechadas; a porta
entreaberta
esperando teu vulto e
o final da estação . Flores sem cheiro
grama seca
homens nus, você nua, pouco mais,
nada além...




É do mesmo dia, mais tarde. O pequeno pavio da minha gigantesca indignação aceso com um lança-chamas.

Horário Nobre

A gratuita publicidade da morte
entorpece desde os mais fúteis
até os que vivem em fuga;
ela jamais acabará, e
assim será a sepultura
das visões refratadas do discernimento.

São belos quadros coloridos,
doces sorrisos mórbidos que
ainda não têm onde fixar-se.
Tudo muito bem pago,
com a nobreza exigida pelo horário.

E os corpos
que aos poucos
fenecem,
que pagam para mais cedo
encontrar o fim,
sorriem e se convencem,
destróem e sentem-se bem.

Pobres deles, grande parte,
eternos inocentes...

03/07/2011

40 ANOS SEM JAMES DOUGLAS MORRISON

Há quarenta anos, em situação até hoje obscura e preenchida por espessas dúvidas, falecia na cidade de Paris o floridense James Douglas Morrison, também conhecido como "Jim" Morrison. Tinha pouco mais de 27 anos, aproximadamente a mesma idade em que morreram Janis Joplin, Jimi Hendrix e Brian Jones (integrante da formação original dos Rolling Stones, morto nos EUA). Nascera num 8 de dezembro, mesma data na qual, uma década depois, morreria John Lennon (há muito mais semelhanças entre ambos, dois dos maiores gênios da música, do rock´n´roll, do que se pode imaginar).

Para quem verdadeiramente conhece a obra deste esplendoroso e completo artista, em toda sua amplitude, pode-se dizer que há quarenta anos o "Rei-lagarto" (ou "the Lyzard-King") encerrava o ciclo que tantas vezes anunciou: o fim. Não antes, fez tudo, conforme anunciava em "Not to touche the Earth": "I´m the Lyzard King - I can do everything":

Se ele é relativamente conhecido apenas pela sua parcela "rockstar" enquanto integrante dos Doors ("The Doors"), não se faz justiça a tudo o que ele foi. Evidentemente, foi na banda, gravando discos e fazendo "shows" que ele se tornou ícone, pois foi a melhor- ou única - forma que teve para revelar tudo o que era: um autor, um poeta, um ator, um cantor, um pensador, um amador. Alguém que, como compositor e vocalista de uma banda de rock, exuberou suas produções com a influência do único período profícuo e elogiável da literatura estadunidense - a geração beat - "the beat generation"); com o que havia de sombrio nos poetas William Blake e Rimbaud, mais toques de Baudelaire; com o teatro avant-garde, com Arthur Miller, com Bertolt Brecht...
 < ... e, posteriormente, com o Living Theater e suas experimentações...
... com um toque da psiquê freudiana (é pesado, mas é... "Father, I want to kill you... Mother, I want to fuck you", em "The End" que está lá, quase no fim da postagem), com a influência do cinema, que chegou a estudar e abandonar justamente porque seu rompimento com os padrões estéticos da época eram exageradamente acentuados. Tamanho caldo cultural já estava temperando as idéias de Jim Morrison, com pouco mais de 20 anos de idade, no célebre encontro com o ex-colega de Universidade, Raymond Manzarek, encontro este que, reza a lenda, deu início à banda e até à escolha do nome, baseado nas "portas da percepção" e o canto à capela, com melodia, de "Moonlight Drive":
O jovem que, sem tocar sequer uma gaita, compunha canções com a melodia pronta. Que foi do (pouco) amor à (muita) dor, da esperança (quase nula) à tragédia (constante), do nativismo (circunstancial) à rebeldia (inevitável). Fazia de cada canção e de cada apresentação a oportunidade de ousar, de experimentar, de ultrapassar os limites, como já se previa no começo de sua história "Break on through (to the other side)":
Mesmo tantas vezes sendo tão tipicamente estadunidense, sempre esteve pronto a protestar e apontar os erros: "may take a week - and it may take longer - they got the guns - but we got the numbers":
Infelizmente, o "pacote" de genialidade de Morrison incluía uma sombria filosofia, "Some are born to sweet delight - some are born to the endless night"...
..., da inexorabilidade do fim e, por isso, com uma busca incessante pela autodestruição - que, por outro lado, o habilitava para tamanho experimentalismo. Por conta disso, o uso ocasional de drogas hoje ilegais - em muitas ocasiões e com muitas variedades, mas, segundo várias testemunhas, sem vício - e do incessante, abusivo, debilitador e devastador uso do álcool, encurtou por demais sua vida, fez ele chegar ao que tantas vezes pregou:
Mas a prova de quem foi, do que era e de como queria ter sido visto - ou não-visto - pelo mundo veio anos depois de sua morte, quando os ex-companheiros musicaram alguns poemas que o próprio tinha gravado. Para encerrar, vai uma das faixas...

Fica aqui, então, um pequeníssima homenagem - a que me cabe, a que eu posso - a um gigantesco artista.

01/07/2011

REMEMORANDO...

Estive conversando hoje com colegas a respeito da situação da educação pública. Os rumos da conversa eram outros, mas recordei do artigo que escrevi para o Observatório da Imprensa e que foi publicado em 13/11/2007 (http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/voz-do-professor-raramente-vem-a-tona). Uma pequena parte dos meus pontos de vista presentes no texto claramente mudaram, mas evidentemente o "leitmotiv" ainda é o mesmo. Vai ele reproduzido abaixo:

VOZ DO PROFESSOR RARAMENTE VEM À TONA


"Todo mundo fala sobre educação e quem trabalha diretamente com o assunto, que é o professor, não pode falar. Isso faz parte da tentativa de fazer com que o ofício perca o seu caráter político. O professor está perdendo a voz, a autoridade", disse Mariângela Graciano, coordenadora do Observatório da Educação, em texto de Rubem Barros, do Portal Revista da Educação, em 10/09/2007.

Profissionais em educação, quando não incorrem no grave erro de permanecerem silentes, são postos silentes por jornalistas, pauteiros, administradores públicos, comentaristas "pensadores" (entre aspas porque são reconhecidos como tais), empresários, artistas, jogadores de futebol... Como todos eles, dando seus palpites sobre educação, especialmente a pública. E raríssimos – para não dizer nenhum – têm conhecimento suficiente para isso. Portanto, independente da causa, o fenômeno retratado na frase de Mariângela (professores perdendo voz e autoridade) reflete-se na real e enorme parcela de culpa dos professores para a baixa qualidade do ensino público no Brasil: o silêncio espontâneo ou imposto e aceito.

Para discutir os problemas da educação pública, incluindo suas causas, aqueles que os vivem cotidianamente precisam ser ouvidos. É condição para a busca de alguma solução. Mas por conta da forma como o tema é debatido, independentemente da abordagem, as (poucas) teses unânimes entre os professores nunca vêm à tona ou são consideradas superficialmente, de maneira tal que sociedade e consumidores de informação não podem visualizar a verdade.

FERRAMENTA PARA FINS BIZARROS

É comum que matérias, textos, ensaios, entrevistas e reportagens especiais sobre educação se baseiem em dados estatísticos ou em índices econômico-financeiros, infalivelmente margeando questões funcionais e salariais, sempre criticando a categoria. Vivemos, no que concerne ao debate sobre o tema, não meramente a era estatística e economicista da educação, mas também a era da crueldade e de uma desesperada busca por culpados. Diante da tempestade, quais questões estão ausentes no debate sobre educação pública?

O pequeno investimento do Estado na educação é tão evidente quanto trágico, mas não é o único problema (em algumas das redes públicas de ensino, talvez não seja nem o maior deles). A questão reside também em como e para quê são utilizados os recursos. Quando parte do orçamento de uma gestão, independente da esfera de governo, é usado na contratação de consultorias, auditorias, ONGs e OSs que pouco podem contribuir com os reais objetivos da educação e que mais servem para contentar "compadres", amigos, aliados e financiadores com contratos públicos (e é neste nicho que se explica a Prova Brasil, SARESP e Prova São Paulo, por exemplo, além de outros incontáveis projetos federais, estaduais e municipais) ou em processos de terceirização de serviços que são absolutamente cruéis e dicotômicos – o objetivo imanente de qualquer empresa privada é o lucro, não o serviço ao público – ou em abomináveis programas assistencialistas que, como no ditado popular, "colocam o carro na frente dos bois" e são usadas eleitoreiramente (usar o termo "eleitoralmente" transmitiria uma impressão nobre demais para o caso) ou quando se estende a abrangência de programas que beneficiam, antes do bem da educação, o caixa de muitas editoras, fica evidente que o primeiro objetivo no uso dos recursos destinados à educação não é o de implementar sua qualidade, mas sim de usá-la como ótima ferramenta para bizarros interesses.

TRISTE DEFINIÇÃO

Não bastasse isso, mais recursos são desperdiçados – ou distribuídos – em publicidade governamental mentirosa. A crítica não é a este ou aquele partido, à União ou qualquer unidade federativa ou qualquer município em particular: é uma prática generalizada, vil, quase criminosa; qualquer um que realmente se dedique à educação, indigna-se ao ver ou ouvir um prefeito, governador, secretário, presidente ou ministro contar meias-verdades ou absolutas mentiras.

Por conta de tudo isso, a escola pública – falo, sim, sob risco de uma generalização quase injusta – perdeu seu papel. Transformou-se num centro assistencialista (usado com objetivos pérfidos), onde a população pode tudo, acumulando incontáveis direitos e para o qual não tem nenhum dever, e suas poucas obrigações, que só podem ser discutidas e cobradas no âmbito legal, são tratadas com leniência pelo Estado, que prima pelo cumprimento da Lei quando lhe é viável economicamente e mostra-se perfeito em ignorá-la quando exige o uso do erário público ou a funcionalidade de sua estrutura. E é por isso que já há anos a instituição escola pública, contrariamente ao que deveriam ser seus objetivos e em detrimento dos esforços de muitos dos profissionais que estão cotidianamente dentro dela, ensinam constantes lições de irresponsabilidade, impunidade – tão debatida e criticada em outros âmbitos –, indiferença e comodismo, não só aos seus alunos regularmente matriculados, mas muito mais a boa parte dos pais, mães e responsáveis por eles.

A escola pública é, indiscutivelmente, a melhor ferramenta que o Estado brasileiro tem para se aproximar e amparar sua população. Mas, infelizmente, travestiu-se em ferramenta político-partidária usada com desfaçatez por todos os matizes da política nacional.

Chegamos a uma triste definição: falar de escola pública não pode mais ser sinônimo de falar em educação pública.

TREVAS ESTÃO DE VOLTA

Não bastasse tudo isso, ou por causa de tudo isso, a sociedade brasileira, no sentido mais amplo, não tem preocupação consistente para com a educação pública (talvez tenha com a escola, por ter ela se transformado em centro assistencialista). Indistintos setores criticam a situação das escolas, as condições e a aprendizagem em geral dos alunos e principalmente os profissionais em educação, mas nenhum setor faz, pelo menos, sua parte para colaborar na recuperação da importância do saber, do conhecimento e da aprendizagem como valores. Ao contrário, instiga-se um consumismo crescente e inconseqüente, mergulhado nas supostas facilidades da suposta vida moderna: não se lê porque se pode ouvir ou ver, não se pensa porque é fácil obter idéias prontas – ainda que absolutamente equivocadas. E tudo com seu preço, consciente ou inconsciente. Nenhuma reflexão sobre as conseqüências mediatas e imediatas que têm os infindáveis e variáveis produtos ditos de informação, consumidos aos montes, diariamente, e que se revelam enorme lixo (sub)cultural. Deixar de tocar tal música por conta do que ela diz e quem ela atinge: jamais, pois é censura; não exibir o programa em virtude do risco de apologia às drogas, ao crime: antiquado; criticar a literatura de viés puramente comercial: discriminação; dispensar anunciantes por causa dos riscos apresentados pelo produto: inviável.

Fiquemos com canais, programas, quadros e inserções "especiais" valorizando a tolerância, a cidadania, a língua, a ciência, a educação e o saber. Tudo feito como "detergente da consciência": "Vejam só, discutimos os problemas, temos responsabilidade social". Ora... Conveniente para a mídia audiovisual, que tem compromissos públicos legais – pouquíssimo divulgados e ainda menos cobrados –, para manter as concessões. E, além disso, tudo "escondido", perdido em horários inviáveis, não divulgados, por isso jamais atingirão o público: ele faz suas escolhas que, em 99 dentre 100 possíveis, beiram o lixo. Qual poderia ser o resultado? As trevas culturais da Idade Média estão de volta, sob nova forma. E não há perspectiva de um novo Renascimento. A humanidade, com conhecimento cada vez maior; o indivíduo, com um saber cada vez menor.

EXPERIMENTOS IMPRATICÁVEIS

Vejo-me obrigado a acreditar, tristemente, que corremos o risco de retornar ao absurdo da mais cruel das censuras, como resultado da incapacidade da ponderação e da irresponsabilidade generalizada tanto de quem produz como de quem consome a informação desinformadora, desestimulante e deseducadora.

Não bastassem os problemas aqui citados e outros mais comumente debatidos, resta o que talvez seja o maior dos dramas: o academicismo inútil que permeia as práticas e políticas pedagógicas no âmbito público.

Beira o misticismo, ou já se transformou em mistificação: nova visão sobre a capacidade cognitiva das crianças e adolescentes, novas formas de alfabetização e ensino, novas práticas, métodos modernos. Sou professor, mas vejo atualmente a pedagogia como uma ciência que parece desprezar completamente o empirismo: cria-se teoricamente o novo e não se observa a sua aplicação. Digo que parece desprezar porque, na verdade, não despreza, mas desvirtua o empirismo. Inúmeros autores teorizam sobre práticas educativas, baseados em experiências que jamais serão reproduzidas nas salas de aula das escolas públicas brasileiras: projetos com meia dúzia de crianças selecionadas acompanhadas por mais de um profissional em educação, dotados de todos os materiais planejados... Experimentos que se mostram um grande sucesso, mas são fantasiosos por serem evidentemente impraticáveis nas escolas de verdade, tais como elas são hoje.

INCLUSÃO É EXCLUDENTE

A superlotação é o primeiro e principal dos problemas: das redes públicas que conheço, a mais razoável em número de alunos por sala forma turmas de, no mínimo, 25 alunos no 1o ano/série – e é discutível se somente com 25 o trabalho já é tão produtivo quanto poderia ser. Outras redes públicas colocam professores em salas com 40 ou mais alunos, em espaços diminutos e precários. Além disso, em regra as práticas demandam quase que um sacerdócio – já realizado, não raramente – dos profissionais em educação: a pesquisa, a coleta e a disponibilização, por sua conta (tempo e dinheiro), de material informativo/conteudístico/sensibilizatório de qualquer natureza, para o andamento das aulas. Alunos têm os materiais básicos – quando os trazem, quando os usam; nós temos disponível, como regra, a voz, o giz e a lousa; quando muito, um livro didático – que dificilmente acompanha as mesmas práticas pedagógicas que nos são cobradas, posto que são obras prontas, remetidas para que façamos uma simples escolha – e, como regra, quase nunca atendida: não raramente, recebemos a segunda ou terceira opção apresentada.

Para chegarmos ao cúmulo, adotou-se no Brasil o discurso da inclusão. E aqui não vai um questionamento quanto à validade ou necessidade de se adotar a prática inclusiva de crianças e adolescentes portadores de necessidades especiais. Mas a questão reside no fato de que ela simplesmente não ocorre. Alunos com limitações físicas ou de aprendizagem são submetidos a salas superlotadas, atendidas por um único e sobrecarregado profissional, sem receber a atenção, os esforços e os cuidados convenientes, e sua presença na escola torna-se pouco significativa para ele mesmo. Além disso, os colegas também sofrem as conseqüências de aulas seriamente prejudicadas pela presença de um aluno como esse. A inclusão mostra-se, portanto, a mais excludente das práticas: prejudica severamente os alunos para incluir e os demais da sala, tornando o processo educativo um fracasso continuado.

MANTER OS SUPERÁVITS

E os professores dedicados, responsáveis – que não são poucos, nem a minoria – são comumente jogados na vala comum dos maus profissionais: taxados de incompetentes, mal formados, preguiçosos. Isso já é há tempos tema freqüente de matérias jornalísticas, e de certos dementes (adjetivo que lembra muito o nome de um renomado articulista, useiro e vezeiro em falar sobre educação, mas que provavelmente nunca pôs os pés dentro de uma escola pública nem como aluno) que vêem no professor o problema central da qualidade do ensino no Brasil.

Mas para além da questão dos salários – problema muito (mal) debatido – há o grave entrave da jornada de trabalho do professor: primeiro, perpassando a própria questão dos vencimentos, já que a maioria dos professores tem mais de um emprego ou mais de um cargo para manter um nível de vida meramente nos padrões mínimos de dignidade; e o problema de como se compõem as jornadas: quando não integralmente, a esmagadora maioria do seu tempo de trabalho é gasto dentro da sala de aula. Como regra, para todas as outras atividades intrínsecas ao seu papel profissional, há que se usar o parco tempo que sobra para corrigir, checar, preparar aulas, pesquisar, atualizar-se, formar-se, capacitar-se. Só com o milagre da multiplicação do tempo ou em outro planeta, onde a duração do dia seja maior que as 24 horas terráqueas, seria possível cobrar-lhes qualidade total em suas aulas.

É uma questão de visão e de opção, e a administração pública, sem ver ou fingindo que não vê, opta: quanto menos professores, melhor; quanto mais eles trabalharem – e só em sala de aula, melhor. Mantêm-se os superávits...

O CAMINHO CORRETO

Para os repórteres, pauteiros, colunistas, comentaristas – ou, mais genericamente, jornalistas – famosos, queridinhos da mídia e outros palpiteiros não enquadrados nas categorias anteriores, tratar da educação pública como matéria séria e como o mais sensível dos aspectos do futuro próximo perpassa pela discussão dos temas acima. Entretanto, raramente eles são abordados. Raramente são vistos. Raramente são pensados. Adota-se a discussão de outros aspectos – também problemáticos – mas discutidos, quando não de maneira hipócrita, incompleta. Qual texto jornalístico da grande imprensa não inclui, obrigatoriamente, perguntas aos secretários de educação (estaduais e municipais) ou acadêmicos? E qual deles possui um relato consistente de um professor das salas de aula? As inúmeras doenças às quais os professores estão submetidos diariamente são tratadas como "indústria das licenças"; os problemas de formação aferidos em provas mal formuladas (por distantes do que é exigido em sala de aula) e em pesquisas "sócio-econômicas" e qualitativas, plenas de perguntas capciosas, são mostrados como conseqüência da incompetência e da má-formação dos professores; professores são vistos como profissionais de "vida mansa".

Como não consigo resistir, tenho que oferecer exemplo: um grande jornal brasileiro – o de maior tiragem no país – publicou recentemente, na mesma edição, uma matéria dizendo que os professores brasileiros aposentam-se mais cedo, se comparados a profissionais equivalentes de outros países do mundo, e outra afirmando que 42% dos educadores do país estão contentes com sua atividade. Apenas faltou dizer como se construíram essas conclusões, faltou informar que, no bojo da transformação das leis previdenciárias dos servidores públicos, as regras para aposentadoria são, hoje, completamente diferentes daquelas com as quais profissionais em educação já se aposentaram e que serviram de base para a comparação. E, do contentamento dos professores com sua profissão, além de não determinarem qual a técnica de amostragem, faltou incluir na manchete o depoimento de uma professora que integrava a matéria, que afirmou: apesar dos baixos salários, apesar das más condições de trabalho, apesar das frustrações, professores não deviam deixar de gostar de sua profissão. Talvez por puro sacerdócio.

Especialmente nos últimos anos, desabrochou a preocupação hipócrita e a discussão inconseqüente sobre educação. Alguns expoentes da mídia escrita aventuram-se, freqüentemente, a dar seus "pitacos" na educação e tirar conclusões parciais que ou são pouco inteligentes ou, pior ainda, comprometidas com interesses escusos – e, mais uma vez, o alvo são os professores.

Falta encontrar o caminho correto, tanto nas discussões como na prática político-social no que tange à educação. Atirar aos ombros dos professores a culpa pelo fracasso do sistema público de educação é simplório e, além de tudo, contraproducente. Achatar seus salários, piorar cada vez mais suas condições de trabalhos, cobrar-lhes cruelmente, e exclusivamente, por uma tarefa que é eminentemente social não resolverá os problemas. Ouvi-los, talvez seja um caminho melhor.

18/06/2011

Bem recente...

Qual o sentido da ação
sem a busca de solução?
Das virtudes na vicissitude
sem verdades ou veracidade?

Pela busca do caminho,
pela trilha de um caminho,
vê-se continuamente a
musculatura inferior extenuada, e
a massa sem tempero
ou fermento das idéias
vai à queda manobrada
e marcada pelo abandono da reflexão.

PURO EXPERIMENTO...

Estas não tem revisão, ponderação, correção... São de hoje.


1: Tem a ver com o que eu faço. Como se comportam outras pessoas que fazem o que faço, onde eu faço...

Is this true?
What is a rageous speech
in honor of benefits
against the own behavior?

We don´t like you
but love and want your hold
we believe that you don´t know what to do
but we´ve been interested in
work for you, work to you
work in your name.

So, let us march and brade
within you pay us for this.

But if I kept you
what I really want?


2: Quase o mesmo... Mais individual.

Mother of a single soul,
thinking graveyard
absence of sense
exception of excellence.

All regular.
Times gone change
a changing.

I have allways to forgot
once again we´re done.

03/06/2011

MAIS RECENTE (OU MENOS ANTIGA...)

Clamor,
ode ao protesto
está pronto o manifesto
agora esqueceremos a dor!

Revolta,
elegia à igualdade
específica propriedade
de tal esperança remota!

Manifestação
criação de face impoluta
força de posição irresoluta
para exterminar a exploração!

Frêmito.
Marcha.
Vitória, derrota.
Fome, fartura.
Adeus. Ateus.
Paz. Guerra e Paz.
Fábrica. Campo.

Cá estamos,
não há desistência,
não há resistência,
abandono o negativo,
ignoro o positivo.

Somos cabeças em construção
construindo uma revolução.

31/05/2011

PENEIRANDO, PENEIRANDO, PENEIRANDO...

MAIO

Galeria de fotos antiga
meu ideal esquecido.
A fusão dos sentidos.
Engano inocente passível de perdão.

Correndo atrás da alma,
nada depois do óbvio.
Nada além do que se acaba.
Desconhecido se nega (ou não?)

Andando muito difícil...
Expirei pela última vez.
Posso ser eterno agora,
conheci o que não pedi.

Resistir nunca foi o máximo,
todos sempre mentiram!
Eu pedi, eu avisei,
nada adianta em caso particular.

O que preciso está quebrado,
insisto para não enlouquecer.
Na falta de algo melhor,
sempre apelei para a teimosia.

O passado com fracasso,
o que acontecerá depois da vida?,
o objetivo inatingível!
A minha razão ultrajada e
a máquina de escrever.

Nem tudo tem explicação...

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