De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

28/08/2011

A-SOCIAL

No vazio, limite da convivência
e bloqueio dos velhos anseios
é algo usual e perene aos
frutos da vida.
Sem lógica,
o mundo passa
oprimindo qualquer manifestação razoável de
esperança.
Uma pseudoestrutura amarga e cruel
denomina os fatores comuns de um negro futuro.

É um jogo comum
que hesito em praticar;
são olhares penetrantes invasores dos detalhes,
desconhecedores das escolhas,
iludidos pelo lugar-comum.

Sempre há um diferente, e se sou,
não foi essa a busca. Concorrência
de outrem, consequência das atitudes.

Sou assim. Não pela escolha de ser,
mas por onde pequenas escolhas me dirigiram.

24/08/2011

ATÉ O DIA EM QUE SEREMOS NINGUÉM

Só porque não posso mais
só porque não quero mais
só porque não sou mais eu
só porque não mais te vejo,
só porque esqueci quem fomos.
Só porque perdi o medo e ando, observo,
modifico e afirmo. Só porque sou eu.
Só porque aprendi a crescer, porque
amanhã não serei mais ninguém.

FIM CHEGANDO AO FIM

Com o olhar de quem nada contempla,
caminhava no deserto humano.
Sentia frio.
Minhas pernas pareciam máquinas,
movimento cíclico, ininterrompível.
Não podia notar o mundo, as
pessoas caminhando no sentido contrário,
ao meu lado outras, formas não simétricas,
absurdamente distintas.
Não havia objetivo, por isso insistia.
Mãos nos bolsos, cabeça erguida pela
ausência de vergonha. Ausência do medo,
nada de paixão, nenhuma busca,
completo recolhimento espiritual.
Pretensão não existia; era uma solidão
passiva, inconsciente. Solidão solitária.
Minha subjetividade contestada,
minha racionalidade ignorada.
Não reconhecia o som das palavras,
meu rosto fez perecer todas as formas de expressão.
O caminho era o caminho, como que se
o tudo a fazer já fosse o nada.
Vazio, meu corpo parou. Vivi intensamente
por mais um segundo.

Foi quando tudo ficou para trás...

20/08/2011

Pretensioso...

É mole querer homenagear John Winston Lennon? Eu tive essa pretensão... Tempos depois de me render e adotar The Beatles como a melhor coisa que o mundo da música popular já produziu, aceitando o rótulo de beatlemaníaco...

One more New Utopian (Lennon in memorian)

Os olhos estão cansados,
quase se fecham. Sua
têmpora lateja. Seu braço já
não sente mais o
silêncio da madrugada quebrado constantemente pelo
virar daquelas páginas envelhecidas que
refletem em sua alma como o agudo
fio do punhal. As palavras, embaralhadas
entre o sim e o não, comovem-no.
Sua utópica esperança o faz trabalhar.
Esqueceu seus poetas, seus amigos
de histórias das quais não participou.
Pensa nas crianças seminuas nas ruas
tremendo de frio e fome. No adolescente
fugindo do projétil, no órfão chorando,
já conhecendo o medo mesmo
em sua inocência.
Esgotado, ele para. Não, não desistiu.
É uma pausa para secar aquela cristalina
e tênue mágoa que seus olhos
cansados deixaram escapar
até o adorador do apanhador para sempre
vidrar sua janela d´alma.

HOJE ESTOU INSPIRADO!!

A musculatura da perna dói por causa do futebolzinho mas não há sono. Então tenho paciência para continuar meu garimpo. Também é aceitável, esta aqui de baixo. Do tempo em que só não tinha religião (garanto que é bem mais confortável que o ateísmo...)

Tornamos simples a vitória dos esquecidos
e esquecemos de vencer os eternos exilados
da paixão.

Pobremente eles fizeram-se mais fortes
julgando com excessos o que mais desconhecem.
E o excesso nunca sempre equivocado
avilta a beleza humana e a dignidade
estupefata da vida.

Agrada-me não estar abandonado nesta luta
mas todos sabem que não sou
forte o bastante para apenas admitir o óbvio:
estou constantemente rendido pela paixão.

Só não deixo de fazerem notar um fato:
o cansaço é o entorpecente
mais frequente
mais vicioso
mais cruel
mais nefasto
e o mais simples de ser debelado.

Venci aquele antigo vício de aceitar o
dia-a-dia!
Agora,
acompanho-o com ironia
sorrindo dos seus erros
e aguardando o exato instante de dar o bote.

19/08/2011

Proletariado, cara pálida???

Tempos de faculdade, ou lembranças da faculdade (acho que foi poucos anos depois...) Ou no boteco (num clube de bocha, da "terceira idade", a "Associação") ou num churrasco qualquer. Lembro lá eu porquê?, mas começamos uma discussão sobre a falência do "socialismo real". Saiu um texto no dia seguinte...
Lembrei porque vejo gente sentindo o odor de "revolução" no que aconteceu em Londres. Claro que é insatisfação, mas que foi canalizada para o vandalismo fútil e sem sentido, com serventia apenas para justificar o viés repressor. Pra falar a linguagem sectária e dogmática, quase engraçada, foi "insatisfação por não conseguir os pequenos luxos pequeno-burgueses que servem como canto da sereia capitalista". Na época, o que saiu foi isso.

Foi o
Sol no lado Leste
resultado prematuro.
Vítimas do perjúrio e
inglória glória vã,
ufanesca,
utópica e devanescente.

O
inimigo recrudesceu e
fechou mais suas garras.
Pior: como lição,
sequer a cegueira sectária.

Dos muros que caíram -
não era sem tempo! -
devia restar a esperança
a fé no humano
o pátio sólido e consistente
de um mundo menos cruel.

16/08/2011

ESSA JÁ ERA LEMBRANÇA!

Ao refletir sobre determinada época na qual, ao invés de viver, eu escrevia como era viver, senti-me enraivecido do absurdo daqueles dias, das tantas oportunidades que desperdicei, do quanto (e  quantas vezes!) disfarçadamente me ofereciam tanto e eu, tantas vezes percebendo, algumas não, abri mão. Então, decidi que ter vivido desta forma era completamente errado! Para demonstrar meu incômodo de tanto desperdício de vida trocada por uma compulsiva e exclusiva paixão pelas palavras... Escrevi!

Porque não dormem incólumes aos vícios d´alma
enquanto o poder da palavra entorpece a vida?

Porque despertam sempre tensas, prontas
a fazer perder o doce instante da poesia?

Porque, enquanto caminho tendo adormecido
rancorosas lembranças, vos levantam e vêm de pronto
derrubar a paz e a vulgaridade acariciante em que
ponho minha mente constantemente matizada?

Porque, além de tudo, vosso desfalecimento me comove
a ponto de tomá-las em meu colo e dar-lhes sanidade,
ordem,
em meio a desordem onde ordenam-se meus sentimentos?

Por quê?

Porque não suspendem a pseudoeterna hibernação
que quase sempre me convence da calmaria?
Por quê? Por quê? Se não sei, aguardo a chance!

Quando, um dia, meus atos estabelecerem grilhões
para vossas tão traiçoeiras fugas,
estarei pronto a amar devotamente
louvando e poetisando a vida,
mas com o cálido hálito humano.


14/08/2011

AS PAIXÕES...

Lembro qual foi, porque foi intensa. Claro, hoje não importa mais. Já eram dias de menos imaturidade, de falta de tempo, trabalho e escola intensos, já mais para sozinho nos trilhos da vida. A lembrança está aqui por causa das linhas que possibilitou-me produzir, cheia de "pessoísmos" (quem dera...)

Não me canso de escrever
os mais torpes versos,
na cadência de minha ignorância
e nas saudades dos teus olhos
que marejavam os meus,
dos teus braços que os meus
e aos meus
envolviam
do teu colo que me abrigava.

Sê a mim o anestésico das dores d´alma
agrada-me com a ferocidade da paixão;
não esqueças a inexorável dependência a
cada passo teu
que a tênue linha da vida em mim produz.

Não há luz, não há
sensação que apague
o que deixo de sentir quando
tua ausência notou-se em meu peito.
Não há vitória. Não há disputa
abdico a qualquer glória
se os frutos das vitórias
contigo não posso partilhar.

09/08/2011

BOBAGENS, BOBAGENS... BEBAGENS

Quando vou peneirar meus rabiscos, no meio de tanta bobagem e infantilidade, encontro algumas coisas pelo menos interessantes. O problema é que algumas são interessantes justamente porque vivia o tempo inteiro de modo equivocado. Mesmo assim, se por um lado "atrasei" minha vida, cresci e amadureci de uma vez tudo o que faltara até então...


SÃO-INSANA


Egoísmo da nação,
minha soberba,
até gargalho de indignação!

Corpo cansado perdido
sem tempo para pensar.
Melhor assim,
prefiro assim -
mentira -
não existe mais, por enquanto,
o risco da loucura.

O corpo dói,
que bom,
o corpo dói...
A cabeça dói,
isso não é bom,
a cabeça dói
e prejudica o meu pensar!

Tenho tempo para chorar, gritar
refletir dos sonhos e pesadelos
entregar todo relato de mãos limpas
eu posso tentar mudar.

Mas eu resisto tanto quanto meu corpo
espero de mim tanto quanto posso,
na ordem inversa do estado mental.
A dor não pode mais que
a dor de não poder mais.

Afogar a consciência,
sem ar,
sem estar no mar,
com o inconsciente dilatado
pelo medo de estar consciente.

07/08/2011

SEM SENTIDO, ALGUM SENTIDO...

São duas: uma, invenção e (falso??) neologismo, certamente teve algum sentido (esse é o resultado de abandonar o que se faz... Como é que vou lembrar???), a outra, direto no plexo, sempre será plena de sentido. Respectivamente...

SINAPISMO

Parece pouco provável
que queiras quantificar
muitos meios melífluos
de doar, dever, dividir
conquistas, corações, comoções
sentimentos, solidões, serenidade
e encantamentos estupidificados.

Vôos, visões, viagens
são sonhos superficiais
tenuemente transformados.

Todo esse jogo,
todo esse esquema,
não passa do dilutável desejo
de prosseguir... Em vão.


PÃO E ÁGUA

Somos nós quem deixamos o pão
acostumados ao não
de quem nos nega a ilusão
de um dia termos pão
negado
por quem nos nega a vida
e a morte
por quem nos cede migalhas
e a vida
não mais que sub vida
e a morte,
morte quem me dera ter
a vida
e a alma no meu corpo pobre
que mastiga restos do pão
negado
misturado a água suja e podre
de quem é tão podre e pobre
por ter tanto pão e a água,
de quem não nega o sim
e a vida.

03/08/2011

Antes do coma

A cura de um poeta
é uma injeção de vida:
uma ampola de amor carnal,
uma gota de maldade - meia de ignorância;
um cataplasma de contatos físicos,
uma pastilha de malícia,
uma cápsula de canalhice;
doses diárias de elixir de conhecimento da realidade e,
ao leite morno,
xarope de malandragem.

Doses calculadas,
ministradas com prescrição médica
adotadas para estes pacientes específicos,
para deixá-los
com a alma pronta para a lama do mundo.