De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

30/11/2011

ISSO AINDA EXISTE!!

Dois episódios, ontem, fizeram eu recordar que este sítio aqui existe!!!! Então, vamos lá, vamos publicar um a mais, na peneira cada vez mais difícil... Peneira que sempre me põem num sorriso, porque as leituras me trazem frequentemente as lembranças do mote da escrita. Essa foi resultado de um dia de premiação, quando recebi duas medalhas pelas quais não pude dar atenção, então roubada por uma presença, e depois um assomo de coragem interrompido no meio do caminho.
Tudo o que faz lembrar o que fui e, certamente, continua ingrediente do que hoje sou, embora as lembranças, felizmente, sejam apenas lembranças.

BALÍSTICA

Da procura que não faço resultam
duas mágoas, mas a culpa não se espelha
apenas na minha imagem
teus olhos também te acusam e tuas palavras
dissimulam o que guardas no canto mais recôndito
do teu coração.

A divisão que causas, nada sanável, em mim se apresenta.
Fecho os olhos e tento a sorte nos passos seguintes
escuridão não é o que encontro, mas sim ilusão
de que eu esbarre em outro alguém que te
ofusque e que apague definitivamente aquela que me
marca e me persegue e me atormenta desde há tanto tempo,
e me tornando um cofre de sentimentos prestes a explodir,
porque não há escape, alívio, descanso.

Até que estes passos incertos de olhos vendados façam
com que eu caia morto.
Todos pensarão ser teu o disparo, mas a
balística revelará que tua flecha negra foi
atirada com minhas próprias mãos.

11/11/2011

Homenageando um amigo...

Nos últimos dias, conversei nas redes sociais virtuais com um amigo das antigas, grande amigo, aliás, um dos que tenho muitas saudades. Discutimos acerca dos acontecimentos na USP e, embora não tenhamos discordado, certamente não convergimos o suficiente - muito embora também não tenhamos alongado a discussão. Pensei muito no meu amigo Tatu, nestes últimos dias, o que me levou a procurar o que vai abaixo. Coisa de vinte anos atrás, um dos textos que, à época, ele claramente demonstrou apreciar. Tem mais um que ainda estou à caça.
Ah, tanto minhas linhas quanto o "apreceio" dele são de adolescentes...

DESEJOS

Seus olhos, mesmos gelados,
já não me olham mais...

Suas mãos, ainda que crispadas, 
já não me tocam mais...

Suas lágrimas, sempre quase sempre secas,
já não caem mais por mim...

Sua voz, insistindo na indiferença,
já não repete mais meu nome...

Seu peito, cada vez mais compassado,
já não tem mais emoção...

Eu sei,
nada disso nunca aconteceu...
Mas, ainda assim, sua visão
ao menos me permite ilusão.


05/11/2011

Muito antiga, quase tudo tão atual...

SEM NOVIDADE

Assim se leva uma vida vazia,
procurando encontrar um tipo de alegria
que nos faça mais reticentes
com o que nos tornou incoerentes.

Sem ter a simples vontade de ser diferente,
caminhamos de encontro ao destino
enfrentando caminhos de puro desatino.

Mas resta sempre esperar uma novidade
que se acaba em cada novo passo;
retorno a encontrar infelicidade
insistindo em entender o que faço
de mim,
pobre, iludido,
esperando mudar-me com o tempo, enfim,
tão perdido.

Só em novos fracassos e decepções
percebo a mensagem das lições
aplicadas enquanto fujo da consciência:
pequenas porções de dor que mostram coerência
e assim farão com que o caminho não
indique a saída antes do fim da ilusão.