De Alberto Caieiro, "em Pessoa":

"Pensar incomoda como andar na chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais"

31/03/2014

Resenha: O velho e o mar ("The Old Man and the Sea"), Ernest Hemingway

Obstinação.

O cansaço é grande, a fortuna é pequena e a solidão, gigantesca - venha a saudade, então!
Mas o mar - o feroz, o gigante - é amigo. Quase irmão. 
Assim como o barco, nave imbatível.
Assim como o peixe, maior que eu, maior que o barco, maior que o cansaço e a solidão. 
É a vida. É a lida. E a solidão...
Mas que são quase três meses diante minha teimosia em viver? Eu vou, completamente só - ou não, com meu barco e o irmão mar e um peixe contra o qual lutar - e voltarei. E a fortuna vai mudar (ou quase). 
Os dias, as noites, a corrida, as mãos calejadas e estrepadas, meu também amigo e irmão espadarte. E os tubarões. Dentusos. Malditos. Desfazer todo o revés, mas só pela metade. 
Todos souberam. Todos viram. Manolito poderá voltar ao mar comigo.
Depois, imenso descanso, profundo sono por meu tremendo cansaço
Mas não o sono eterno. Porque eu sou velho, mas estou vivo, e me quero vivo, e lutarei - com tudo o que eu posso, com o pouco que eu tenho, mais o conjunto do que a vida e o mar e os peixes e o céu e Manolito me permitiram saber.
Santiago.

Pois é. Em tamanho, um folhetim; mas em profundidade... Ou genialidade ou o único acaso da vida.
Que livro, que singeleza, que livro!

04/03/2014

De despedidas...

É destas coisas, um tantinho mais fácil para quem crê - posto que está dentre aquelas tanto inquestionáveis quanto inexplicáveis.
Inquestionável... Parte indissociável e inevitável da vida. Obra do ciclo natural. Tudo bem. Aceitar ou não aceitar, que diferença faz?
Mas como explicar? Não que aconteça, mas quando, como, onde acontece. Por que assim? E quem fica? O que dizer? Tentar confortar? Alguns podem, pois com o coração pleno de sinceridade e honestidade, exibem algo além, algo mais; até motivos para sorrir, apesar das saudades, apesar da falta, apesar do vazio. Mas, dos que não crêem, melhor certamente é o silêncio. O ocaso da palavra e da imagem. Porque a amargura, de certo modo, evidencia-se maior. Especialmente para quem quer e necessita de urgente conforto. Aos incapazes de fornecê-lo, melhor silenciar. Quando é o caso, manter-se em pé, tão firme quanto se possa, ao lado. Com o travo na garganta, o cansaço e a cefaleia intensa de quem busca entender, a lubrificação que, por tudo, considera-se melhor ocultar. Sem teatralidade, nem da autêntica, quanto mais da ensaiada. E até por isso se paga, tem-se o seu julgamento e suas penas a cumprir.
A despedida pouco adianta. Resta pesar o quanto se faz falta, esperar o tempo permitir que se sorria ao lembrar do que foi especial a cada um, e ponderar o fato de ter sido para tantas pessoas, tantos colegas, que não se ouvia nenhuma crítica de fundo e, evidente, partindo daquilo que se mostrou especial a cada um.
Para mim, uma consideração extremada, de início estranha. Da que se concluiu inicialmente que se foi incutida por alguém, mas que depois vem da plena certeza de que viu, observou, julgou, considerou. Eu, com meu preventivo afastamento parcial, tantas vezes sorri ao ver mais uma vez... Mais uma vez, que estava também na conta. 
E, com essa proximidade que se desejou, a estima que revelou, a parcial admiração mútua que se evidenciou - nada exclusivo, pelo contrário, o que explicita uma grandeza - a mim coube uma estranha tarefa, repito, inexplicável, incompreensível... 
E a quem revelou seu amor fraternal por tantos através de simples recortes e mensagens fixados em paredes, fossem pelos retratados ou por quem sorriria com eles, não há adeus. Eu não consigo. 
Porque sou desses, então melhor deixar assim.